quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

(Isso não é um retorno)


Se eu não me calo é por puro egoísmo. Já decidi: a humanidade jaz na lama podre e eu (óbvio) faço parte desse escárnio sem um deus. Não temos grandes feitos, morremos para a objetividade, o fluxo interior expandiu ao universo e hoje não diz mais nada. Mais nada.

O que há chama-se piedade. Histórias de comoção, desventuras pouco trágicas (no sentido supremo grego), tudo cru e real. Catarse? Nem a temos tão poderosa, nem se assim ainda fosse limparia o julgo que causamos ao longo dessa "evolução". Meus queridos homens e mulheres, criancinhas... Oremos em silêncio.

Não há um pai, não há um pão.

Em silêncio nessa última madrugada eu abri três mil cicatrizes e sangrei toda a verdade. Acabemos todos nós, por favor. Não há meta ou sonho tamanho, não há altruísmo ou inocências, não há renovo ou botão orvalhado nessa manhã que justifique a matança espiritual de cada dia.

Lutai por puro egoísmo. (Perdemos o Eden há milhares de versículos atrás). E eu não me calo por puro egoísmo. Três mil e uma cicatrizes estão abertas e eu sangro por você, homo sapiens.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Labirinto (parte VII ou uma possível saída)

Anjos retornam ao alto.
Siga os sonhos mais brandos, os tais altíssimos fora de mim. Vá, meu lindo. E te perguntarás: “o que foi isso?”.

(No fim nada haverá existido)
(o tempo e a eternidade)
(Diga a deus)

Celebremos o fim da noite.

Doces sonhos coloridos ao manto magenta e fogo. Algo sobre você e tuas profundas cicatrizes, algo sobre a maré que baila em tuas veias, amarga e fugaz. Doces sonhos... Assim eles te acalantam.

E o universo vibra lá fora, mesmo quando a solidão oculta o véu de santidade da vida. Vá, siga em frente: eles te adorarão.

Eu te amei. Te transgredi e amei. Pois bem, brilhe quando puder, seque as lágrimas, abrace. Se lembrares de meus olhos tristonhos, da última nota de nosso adeus (tudo foi, desde o inicio um adeus), sorrias à noite e siga. Ascenda, minha estrela!

Amei. Tu que passeou por esse labirinto solitário e beijou uns destroços de insanidade e brilho fajuto.

Agora vá. Prometa que brilhará para mim e vá... Entrego-te a saída, meu derradeiro fôlego de vida. Obrigado...

Light up!

sábado, 19 de novembro de 2011

O Labirinto (parte VI)


Perdoa? Perdoa minha ruína, esse caminho tortuoso e surreal que tenta ludibriar-te. Perdoa? É que eu preciso mentir para mim mesmo, fugir... Sou esse estranhamento sem lar, uma chuva só de angústia e ares de desencanto. Tudo o que edifiquei, tudo para o lado negro... Essa descida noturna não é minha, até o profundo... E se não me amares... Perdoa, meu lar é teu.


Guerreiros pelejam a restauração. Todos somos guerreiros da salvação! Fortes essa noite em nome do Amor.

Levante a voz, grite, quebra-me, escale meu maior monumento e grite: é sobre o amor! Corra, livra-te de mim, de meu amor. Siga o som infante à direita da clave de Sol, vire! Não, ali. Acima de ti, atrás do mundo, livre! Mata os flashes e será fácil.

Tivemos um o outro; lembra do caminho? Está lá, dois passos da tua fronte, corra. Que ainda esta noite serás feliz. Fora de mim.

Anjos caem: é de lá que vieste.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Labirinto (parte V)

Um segredo: há muito que emudeço em tua presença. Desde o primeiro instante que vislumbrei tua presença, desde o primeiro instante que vislumbrei tua face. E unicamente sou essa escura câmara confusa e espaço labiríntico vazio porque te amo; da primeira vez que vi tua face, essa tua linda face. (porque sempre depois do ápice da formosura, vêm a chuva baixa e o som do coração)


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Labirinto (parte IV)


Sente-se completo? Seguro? Machucado? O momento é teu, o céu é teu, dou meu infinitivo segredo-ser ao teu corpo humano. Há de superar as dores, os medos. Encanto aos olhos azuis com coragem, de ser, Livre. Aqui em mim e hoje-ternamente estarei em ti. Pois então não diga nada, sorria às cicatrizes e creia: a luz é toda tua...


A flecha negra rebentou e agora demônios atraídos antes por seu sono e acalanto, vêm famintos. A árvore da vida renasce e tu estás nela num novo instante! És o rei! A benção e os caminhos são os teus próprios. Questiona-te, onde estou, onde sou? Tudo é meu? Tudo isso sou eu? É magia.

Perduram alguns muitos passos a serem dados nesse salão. O próximo descaminho é o meu favorito (chegamos onde eu te digo “estarei contigo”). Eu te acolho e tu paras com a procura do fim; meus laços são o teu lar, essas entranhas infindáveis. Eu te deixaria ir, dizer adeus e me deixar chorar... Mas eu te tive. A multidão se encanta com teu vôo. As asas se encantam e eu fujo com teu canto. Temo-nos livres! A Lua recresce com o jardim em mil perfumes e temo-nos um no vôo do outro. Livre! Livre! Em meu colo te protejo... Um passo eterno, ah, podia ser tão eterno. Está bem, eu estarei contigo. Te protejo em meu corpo e somos a mesma luminescência alva rósea pura. Vá, eu permito, vá com teu destino, eu quero te amar mesmo de longe (e tu retornas e me pegas no colo).

Deus está aqui. Ele e todos os santos. O meu deus e os meus santos cantarão conosco no coração desse jardim o que canta teu coração: Cry me a river.

É doce e lindo. A multidão acompanha e até poderia chorar: emoção entoa até o limite. Mas não, não... Deixa brilhar frescor e orvalhar em nossa pele morena. Cry me a river...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Labirinto (parte III)

Nos verdes olhos de teu amado?

Ascende como príncipe e o azul mistura-se com a aquela aquarela de ilusão que não se finda. Te vejo através de teus olhos, te vejo no paraíso, nas estrelas, vivendo por toda essa triste devoção. Abrace o ventre, ore para o dançarino astral, creia... Príncipe, meu príncipe perdido.

Te beijo.

Amor no centro de tudo. Meu cativo, as raízes morrem, eu desmorono; sou a noite - nua - e você minha mística luna. Não posso... Não deveria: sou labirinto e me perdi em teu corpo! Mal posso respirar. Deixa-me sozinho? Procure meu fim, dia após dia, abandone-me.

Eu não posso respirar.

O azul é meu! Que devora todo o espaço, esse espírito ciano de dor. Príncipe, no centro, venha! Desfaça-me... E eu já não respiro sem ti. Pois é lindo...

Teus ombros, meus umbrais: eu Te possuo eu Te preciso, há tanto que preciso... Esse castelo jaz todo abandonado e vazio. Meu homem. Seguro teu peito, eu te prometo. Se te assustares, abraçar-te-ei com alvo gozo e continuará lindo...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Labirinto (parte II)

Doeu tanto enquanto não entravas totalmente nesseudomínio... Inflamou!

Amar nunca fez sentido.

Hey, como você se sente? Em tempo, nessa noite infinita, sentirás o bom. Se sonhares.

Uma multidão anseia o teu vislumbre;
(libélulas sorriem com a ponta dos pés, beijando o fôlego do vento)

A multidão vê, extasiada, a tua corrida surtada. Onde fica a saída? Onde retorna? Apenas fique, meu bem. Fique bem e o mundo agradecerá levantando as mãos.

Agora os meninos se foram; gritos; alegria pura. Qual é a cor do momento? Talvez agradaria uma brisa morna-marítima. Um oceano e sereias esculpidas por Fídias. Seduza-me com teu canto sem retorno, timbre abençoado! Navegue os sete mares, descubra mais sete. Tudo sem dor ou fé em Netuno. Aqui. Pegue teu coração como se fosse seu e o eleve – para que as marés de fúria não o atinjam. Espera. O fogo superabundou, o pátio está tomado por mãos em chama. No ápice do altar a última nereida ressoa a sua ultima alta nota. E o fogo se apaga em teus olhos...

Agora, em que direção?
(Palhaços angelicais saltitam na festividade do Cisne Sonhador Rubro. Hallelujah! A luz, a luz! Onde está você?)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Vale à pena dizer o que já foi dito?
Vale à pena sentir o que já foi sentido?
E se for tudo precioso, viveria eu contente com o que já foi vivido?

Sabe porquê ainda te amo? Porque ainda não travei diálogo com Sócrates. Eis-me então desconstruindo tua bela aura:

" Os estilhaços perfurocortantes não feriram meu olhar. Te expulso da redoma sagrada e nem me atinge, nem me dói. Desnudei-te e vi mil chagas pintando a tuas epiderme clara e fraca - é humano, é mortal imoral. O que conheço bem sei que é falso: o salitro dos húmidos olhos verdes teus hoje secou, agora fecha-se, muta e nada é capaz de se apaixonar. Quando te amo, primeiro segundo após você já é outro, e corro para te amar de novo, mas foges daninho. Ai! Que essa adoração furta-me a cor e o fôlego.

Pára e morre! E poderei te ter, congelado.

Quem te és? Eu, ele, você, nada exato e Deus cometendo erros. Presta atenções, não sou agraciado de relevação divina, tu não és meu anjo, presta atenções.

Suspirei outrora sob o espelho. Abriste tua boca para dizer-me honestidade e o reflexo veio devasso. Só atingi meu alvo romântico ao olhar a imagem da tua imagem em minha imagem. E morrias de novo cada segundo novo.

Então... Há auge de glória no meu sentimento? Houve autenticidade... Todo passado é autêntico. Se repete, acrescenta. O que eu amo é cada vez maior; eu amo cada vez maior.

(e a maiêutica prometida?)

Ora! Então o que te amo não é você.

Homem, quando te levei para o alto trágico nem me dei conta de que erguia uma ideia enquanto matéria despencava. O que quero é a tua alma quebradiça. Lindo monte de ossos.

Remanescências estão atentas a me cegar. Deixa eu dizer: se te adoro é por puro cansaço. Tu não és um mito, é hora de eu descansar dessa exausta elevação fortuita.

(e a maiêutica prometida?)

Ah, caí; deixarei o próximo botão falecer em pétalas de amor. Eu nunca atinjo ômega algum. Caio - sempre - no jardim dos desertados.
É que de fato não quereria tudo isso cá dentro."


Mas por você...


sábado, 8 de outubro de 2011

O Labirinto (parte I)


Enquanto os céus despencam sobre a terra amarga e infértil, portais de luz dum novo mundo elevam-se, hipnotizam. Lá no fantástico interior, unicamente lá haverá nova beleza e verdadeiro refúgio.

Bem vindo, anjo, ao Labirinto. E não olhe muito nos meus olhos.

Uma noite se confunde com um desejo, tal qual um sorriso a um mágico espetáculo. Unicórnios lepidópteros sobrevoam o caminho quadriculado – um mesmo lugar, um todo lugar. Há medo na sinfonia, mas acredite: à esquerda da luz, entre o casal de estrelas dançantes, ainda essa noite você será quebrado.


Tema quando reconheceres o passado, os últimos passos dados antes do portal, apenas. Aqui piano e balé são a redoma do teu deleite. Os olhos azuis, a pele morena dessas paredes pede: não me deixes, não corra. Perca-se num segundo. Deixe-me derrubar tua realidade. É belo, é extremamente belo quando o espelho é estilhaçado. Então a promessa é de manter isso aqui muito alto e vivo.


Feixes de carmim rodopiam ao vento, seguindo a aflição da liberdade. Tudo cai nos braços do vazio e glitter é o nome na nossa religião. Como se sente?

domingo, 18 de setembro de 2011

Ícaro falls (in love)


Deixa me a paz cá dentro, recolhida num dos aposentos mais aquietados e banhados sob penumbra.

Deixa cá eu adormecer sorrindo, ao menos essa noite, ao menos um sorriso... que dos excelsos excessos nada venho destilando... ao que me parece, sequei.

Da última natureza morta, expurgada qual nódulo cancerígeno, necrosou algo a mais... uma esperança, um sonho, um deus que sá.

Mesmo em louvor santificado, sincero e virtuoso, o aflitivo medo permeia e pernoita meus átrios, ora discreto, ora jorrando cascata violenta...

Eu acho que morri. Bem nítido, o horizonte se mostra findo, clareira que cega ao passo que revela: do amor nasce a aura que protege; do que mais ainda amo - venero! -arrancam-me das entranhas vitalidade (a pouca que divido com flores).

Tapem meus olhos, norteiem meus sentidos!! Que estive a jejuar a escrita. A fraternidade do fogo, ao consumar um ideal abraço, queimou-me os membros, mutilando a vontade de voar.

- o voo onírico das palavras -

Quero dormir, quero deixar que o sonho me guarde em quietude no novo mundo lutando por emergir nas vagas desta literária redenção. Mas não me deixes independente, louco que sou.

Vem comigo, pousa teus olhos nos voos dos meus, que a brisa nos sussurrará a verdade e, no auge da glória, beijaremos com fogo e paixão a nossa repentina graça!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Natureza Morta


Hora corrupta. A noite mais fria permeia duas estrelas rompendo um relacionamento, orbitando lados contrários desse círculo negro galático. Nem as folhas mortas suportam a miserere do caminhar sóbrio do vento.

Sentimentos rodopiam a esmo, da palma da mão aos confins do tecido ocular, penetrando a veracidade do passado. O sonho cadente em poeira desfaz no vão dos dedos, ludibriado pela nebulosa sepulcral... Algo está morrendo.

Enterra o derradeiro fôlego e integra-se ao corpo no Mundo, espectro da treva, desfalecido das asas de Deus. E continua o movimento ao outro lado, recordando os bons tempos da aurora, as linhas que saciaram uma possível falência; de quando as ondas de outrora traziam certa náusea oceânica: uma fenda que se revelava na alma, uma abertura para o bem. Hoje nem mesmo o mal se sustenta! Então caminha, anda sem pressa por sobre a realidade e esquece que possuiu em botão de rosa um desejo imenso.

Que houve um anjo. Que houve um poema. Que houve um sorriso. E que - feito plasma vivo - expandiu-se e atingiu o primeiro céu, crendo religiosamente na inverossímel felicidade.

Eis a última estação. Um corpo vazio deixa-se guiar pelo frígido amante das madrugadas. Rendido, calado, abdicando ao absoluto. Uma sombra qualquer dança deformada na parede: é o adeus fatal... Eis o último sussurro:

- Vento que furta o cheiro do beijo, que desce aos pés e morre no concreto. A vida é abiótica.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bulimia literária:

A besta muda querendo escrever algo bom e bonito, para enfim descansar no sétimo dia - como fez nosso deus cristão. O problema é que, assim como o tal divino, a coisa tá péssima. Feia.

A mula muda digerindo mal as doçuras, gulosa inconsequente! E agora pesa e dói e pune e retorce. A coisa tá péssima. Feia.

É o que temos para hoje: vômito e refluxo.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Solilóquios de Desirée

"A genética do suicídio vem aflorando imponentemente sob minhas veias. Espera, segura, liberta e relaxa o fôlego: não me matarei. Não que falte vontade... É que de modo algum pretendo pisar os mesmos passos de minha mãe. Quero os meus próprios, os que me levem ao precipício (ou pior, à sinfonia errante inacabada). E também, lógico, falta a coragem dos covardes."

"Ai, estou tão fadigada de manter-me online. Fadigada de ignorar as janelas acesas desejando manter a fática. Não sou essencial, e quem é? Tudo o fazemos é para manter-mos vivos afim de. Se você me chama é para buscar o contato a fim de. E eu aqui, tolamente falando aos meus ouvidos surdinos a fim de. É a insistente busca de um sentido para essa coisa amorfa que é a vida e o mundo."

"Redondo por excelência. É a forma perfeita para desgrenhar o infinito."

"Jack: o meu infinito."

" Eu bem sei, ele está todo quebrado em algum quilômetro da pista enegrecida. Seu sangue penetra o asfalto frio e seus olhos assustados, profundos no fundo da órbita ocular, tentam ver algo além da lua vibrante. Sua moto - único bem presente - jaz rebentada, ali... Ah, meu homem... A existência tem esfolado tua beleza cinematográfica? O rebelde tem sido prostrado pelo labor inebriado dos dias? Eu bem vejo que te abateste no descaminho. E também muito bem ainda me dei conta: nossas vidas não passam de trágicos acidentes."

"Como posso socorrer meu monstro amado se o ventos me esquartejam a todo modo, de todos os trópicos e coordenadas? É verdade, deixei meus antepassados para penetrar nova angústia. E ainda me derramo na dor... Sou a última da geração dos feridos, Deus queira ou não."

"Eu poderia tentar ser feliz. Não. Estaria seguindo o mesmo caminho."

"Eu poderia ser feliz. Não. Estaria me levando ao impossível."

"Ainda não, Desirée. A felicidade não é questão de possibilidade, é o que pinta-se no surreal. É feliz aquele que enlouquece."

"Então, Jack, enlouquecer-te-ei com meus verbos e beijos a fim de fazermos sentido um ao outro. Por favor, algo tem que me manter aqui além do medo, então retorna! Retorna e abraça o que não fomos."

- Por que tanta saudade do que nunca tivemos?

"Nunca encontrarei solução e alívio. Por mais que insista em ver a beleza, abrir minha alma à caricias e me entregar ao gratuito amor... Nem que o vento me leve aos quatro cantos e eu veja o quinto. Eu ouvirei atentamente o chamado e lembrarei do meu passado: Um Nada. Olharei os campos a volta dos meus passos, minha atual verdade: Um Nada. E eis o futuro: a infindável tentativa de encontrar a motivação para essa andança. Nunca, nunca, nunca encontrarei solução e alívio."

"Então eu durmo."

... Boa noite, Desirée.


domingo, 21 de agosto de 2011

De olhos abertos


"Se a chuva realmente fosse o orvalho de Deus ou qualquer outro signo de bendição, o tremor dos soluços boldinos não me possuiriam assim, pressionando minha garganta desesperada e meu olhar tosco em volta desse ritual dionisíaco que é a vida. Sou mênade convertida. Protesto essa existência subjugada. Prostituta exausta da catarse. Quero é viver cegamente."

Como ela pode sustentar tanta podridão num coração que vale o infinito do mundo? Saturnine deserda a esquina e segue em frente, tentando não ver a bestialidade da vida, tentando embriagar-se o tempo todo de desamor, como se fosse coisa possível esquecer que tudo é o fundo do poço. Ainda tenta lutar contra a insensatez da cama suja de sangue feminino, líquido branco do prazer e toda aquela imensa de inércia. Nada vale um sorriso, e sorri com o conhaque usurpando sensações.


Depois lança a taça na parede. Mil estilhaços são deixados para trás.


Quando o batom vermelho e o torpor do estupro consentido serão o suficiente? Nunca? Ah, Saturnine, descansa da dança dos anéis de melancolia. E chore, chore como um bebê no colo do vácuo do universo.

"Não me ames, não me leias: é que resisto à luz, sei. Quereria outrora ser o inanimado planeta Terra, néscio face a sua tragédia. Mas sou Saturno, de olhos abertos cintilando silêncio e lágrimas o tempo todo."


Anéis de luz negra sobrevoam a aura caída de Saturnine;
abismo e solidão.


domingo, 14 de agosto de 2011

Igor,

Quando a paz dissipar-se da tua pupila reprimida...
Quando a luz transgredir tua solidão onírica...
Quando demônios vociferarem cabala negra aos teus sonhos...

Ah! Então no ato eu me elevarei à fé em prece: "deixem-te os espectros em penumbra, retomem os cantos do mundo e partam de atormentar-te o cálido amor ferido".

Ávido de entregar-te feitiço lunar sempre estarei; de esconder teu coração no acalanto de minhas pálpebras adormecidas para que não retornes jamais às tormentas malditas. A ti dedico meus hinos de silêncio, breves notas de quietude. Embalo e protejo...

...Com meus versos vazios eu danço e canto e decaio e amo.

Vem!

E repousa esse fardo em meu peito, anjo místico; dá-me tuas cicatrizes e sangra sob meus lábios - eu tomo tudo, devoro, afasto. Se doer, se o olhar cair turvo, fugitivo... Tudo tomarei, pois por ti renasce do limbo pétalas que cativam minha epiderme, tuas pétalas de ser-poeta hipnotizando minha escuridão. Amo teu carinho, amo teu sorriso, tua magia e teus beijos.

Para a eternidade te quero assim, lindo, afável, amando comigo. Então tudo tomo.

Desse desejo sobrevivo, desse bálsamo ágape anseio.


domingo, 7 de agosto de 2011

Nichya

Metchty
Nos relevos do frio em Moscou, duas garotas caladas revelam olhares cúmplices uma à outra. No alto do terraço onde elas escondem seu amor, cresce em meio ao limbo, íris azuis, trêmulas e frágeis (como o pulsar contido do alvor eslavo em arrebatamento amoroso). Poderia o mundo ser mais belo que aquela cadência maldita? Uma cidade qualquer, enegrecida pelo silêncio da memória, pedante... Lírica onde os pássaros ousam cantar, gótica nas horas últimas da tarde. Um submundo superlotado de solidão. E no alto do prédio, onde flores relutam ao congelar do esquecimento, deitam duas garotas enamoradas pelo fim. Haveria chance de serem mãos dadas em plena luz burguesa? Beijariam-se aos domingos no banco do parque sem a perplexidade arrogante e o dedo acusador do homem? Casariam, teriam filhos e amantes? Seriam como a brisa do verão ou como o gelo do inverno?

Slyozy
Eram como lágrimas, hoje. Purificando sonhos renegados, renunciando a vida para ter-se. Escondidas no amargor da meia noite. Mas elas se prometiam: um dia tudo mudaria e sonhos não seriam mais largados no caminho! Esse seria um só. Tudo delas.

My ne v posledniy raz
Os outros não deixarão que elas escapem facilmente; as doces memórias, os sorrisos (rosto e corpo) serão maculados ao toque do sino da catedral. deus-Homem acusará, a lei acusará, a sociedade acusará. Mas eles não devorarão as suas esperanças, adiante haverá luz branda e lar. Por hoje o dia será como a noite, a noite tal qual manhã solitária... Os outros as separarão, porém os olhares outrora tão únicos e depois ultrajados pelo rompimento brusco se encontrarão. De novo, essa não será a última vez.

"A lua escuta os espasmos do coração. Elena fixa sua alma na mirada de Julia e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."

Refleks
Toda essa perseguição ao amor detém-se à reflexos incoerentes de um sexo incorreto. Quando as regras são quebradas em declarações de paixão e poesia ou com o frêmito abrupto de mentiras; quando há o medo de ser um olhar solitário, de encarar a verdade da humanidade: (que não se faz piedosa a ninguém - que cada um é só por si só); quando o espelho revela o brilho de meninas quebradas.

Glazá
O tempo já parou de contar as horas e o vento desistiu de violar a epiderme alheia. Ecos do vazio, i-mundo cercado de nevoeiros soturnos e indícios de chuva. Abandonar-se-iam em beijos clandestinos, entretanto hoje elas preferem ser seres errados, num abraço. E de soslaio uma seduz a inocência da outra com o pecado de se amarem, olhos que suplicam: 'nunca me deixes, essa não será nossa última vez'.

"A lua escuta os espasmos do coração. Julia fixa sua alma na mirada de Elena e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."


(Nota de rodapé: esse texto foi inspirado na música de mesmo nome, da dupla russa t.A.T.u.. Só dei uma traduzida e adaptada vagal, hehe)

Lyubye otdam mechty
Za to, chtob tuda, gde ty
Ty znaesh' menya
Ya vse promenyayu
Lyubye otdam mechty

Profil' i anfas
Zhivymi voz'mut ne nas
My otvernemsya
My ved' vernemsya
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

Prosto eto pefleks
Nash neprabil'niy tekst
Ili slovami chto-to slomali
Ili sovrali bez

Strah odinokih glaz
Nikto ne poydet za nas
Kazhdiy odin
Ne uhodi
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

sábado, 6 de agosto de 2011

A melhor coisa a se fazer


Quando um "poeta" (ou garoto/homem metido a escritor) não consegue expurgar sua aflição nem com palavras, quando essas não se fazem reconfortantes... Nem explodem magma fora da perturbação infernal que se faz no âmago.

Quando a garganta está em nó - aquele que evita ser o nó de um suicídio. Quando é tragédia... Não! Pior que a dor, é esse vazio.

Quando o nada violenta até a entrelinha... O melhor a se fazer é deitar o corpo cansado e fingir que a alma descansa no sono. Quem sabe amanhã... Um dia melhor... Um pouco melhor... E versos dignos.

(mas ele, o poetinha, insiste e escreve... ah, escreve escreve escreve...)

"Se Ele me amasse..."

"Se Eu me amasse..."

"Mas me suporto. No sono eu me suporto."

A pior coisa que encrava no destino do mísero artesão de palavras é a insónia. Fecha os olhos e finge que haverá o bom amanhã. Finge que haverá o amanhã - eterno presente. Dorme. Dorme... Deus promete.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ensaio sobre a fragilidade

Perdão, quebrei antes mesmo de constituir a obra-prima. Sou um rascunho malogrado, é isso.

"Be my friend, hold me, wrap me up
Unfold me I am small, I'm needy
Warm me up and breathe me" - Sia

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Explica-Me


Ah, quem dera eu padecesse de martírios! Mas é que a vida tem sido muito benevolente para comigo. E desse modo a minha tal dor contínua paira numa continuidade de culpa: não tenho direito sequer às águas amargas. De que sofro, então? De ser feliz? Ou de não o ser? Porque nos jardins mais belos da minha estadia na Terra eu levo a obrigação-karma da ventura! (um verdadeiro atentado ao pudor).

Deixa eu cair um pouco? Mesmo que não haja desgraça suficiente a me induzir aos precipícios, deixa-me desabitar o plano seguro e me lançar desesperadamente às trevas?

Ou dê-me motivos para tal sofreguidão. Diga, o que te incitou presentar a dor ao meus espírito?

(estou inventando culpados para fugir do castigo. no entanto eis o grande paradoxo: o castigo sou eu)

Rosas prateadas e o sorriso rubro da Lua me enchem da Graça, às vezes.
O apreço esmerado de meus amigos não ressuscitam meus ânimos, às vezes.

Que me prostre, que me regozije! Que eu decaia numa paixão onírica e acabe meus dias solitário, num pó de abandono! Que seja feita a Tua vontade e não a minha... Mas diga, unicamente revela: Por que? De onde vem a semente? Para que eu saiba a cor do meu riso sincero e de meu pranto mudo. Para que eu cultive e cultue meu futuro Paraíso Celestial ( para que eu O tenha, por favor!)

Olá? Explica-Me?


Era uma vez... Ah, foda-se!

E eis o mundo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carta a meu doce suicida

My Sweet 666

Os tempos se passaram e meu ser ainda ensaia em se aquietar diante de ti. Como vão teus vôos no plano sublime? Estás bem aconchegado? Sonhas com campos floridos e suaves em teu dormitar tranqüilo? E quando desperta teu espírito eterno, encontra a paz nos aromas que cercam tua aura plena? Quero muito saber... Anseio em ter visões de ti, toques na madrugada, saber se estás bem... É que as rosas que deixo no caminho são para você. Todas elas.

Meu lindo, essa noite sonhei contigo – eu sei. O destino, misterioso e soberano, não me permitiu recordar as linhas que sobrevoaram meu sono, mas sei, eu senti! Noite passada beijaste-me os lábios. Despertei como de cem anos e, ao retornar vagarosamente à realidade, vi: cem não, quase dois, apenas. Desde que tu fostes bruscamente, levado pelo fado maior, o fado da vida. Desde que tu fostes levado por aquela corda maldita, enlaçando nossos fôlegos e marcando para sempre nossas vidas. Mas quero que saibas que eu te perdoei. Perdoei teres achado que tua vida em mim era vã, perdoei a impressão que tinhas de que se a morte te enviasse passaporte, eu aqui nem ao menos uma lágrima derramaria.

Eu sei, foram as nebulosas do mal. Tu não vias, tamanha era a dor de existir assim caído. Eras um anjo, meu anjo! E os vôos da Terra te cerravam as asas.

Como tentei te consertar! Cada gota de sangue que pendia em minha pele, eu suscitava carinho na tua. Fiz tanto e no fim (fatídico fim) não fiz nada. Tu ergueste aos céus a ultima esperança e nem choveu... Eu não estava lá, mas tu estavas bem aqui em meu peito. Ainda está. Tu ergueste a cabeça e enfrentaste o medo da morte.

A todo instante queria eu juntar teus pedaços e revidavas: “não estou quebrado”.

Minha fortaleza! Enquanto eu chorava na cama, tu vinhas disfarçado de intransponível e afagava meu pranto tolo. Às vezes chorava comigo, ás vezes ria-se de mim e eu me amuava num canto, indignado com tua frieza em frente a minha ferida... Mal concebia que era tudo fantasia, cena de teatro. Tu rias com um torpor de angústia escondido na pupila comprimida. Fez-me pequeno para te assegurar que serias tu o grande, o forte, o refúgio. Minha fortaleza...

E desabou. Mas eu te perdôo.

Ah, minha luz ferida... Hoje vais bem e livre, não? Diga-me que sim! Todo o meu despertar, o brilho de meu sorriso tentando imitar o teu, tudo eu faço por ti. Não quero fracassar mais uma vez... Deixei ires ao encontro soturno do fim, deixei caíres do maior precipício. Eu que dizia ser amor!

Diga que vai bem... Dedico-me inteiramente ao teu sorrir.

Se faço poesia, se canto nossas canções góticas, se danço na escuridão lacrimosa, tudo! Tudo por você. Até prece eu dedico aos céus.

Venha cá, dizes: desse outro lado é bom? Tens ainda o mesmo olhar misterioso, a face d’um anjo calado? Te reconhecerei quando chegar ao teu lado? Promete que me esperarás daí e me levarás até os confins mais adorados do Paraíso? Porque éramos tão gêmeos em terra, é certo que tudo que no céu tu adoras, adorarei também. Como é Deus? Ele É? E cabemos todos no Seu colo? Porque não te largarei um segundo da eternidade: será tão pouco para te amar do modo que mereces.

Sabe, é madrugada. Lembra das nossas? As que nos pertenciam? Era doce e lascivo. Adorávamos nos amar, mas depois tu viravas do outro lado da cama e se calava sacramente. Eu sempre soube que não poderia transgredir teu silêncio, então deitava minha fronte em teu peito descoberto e abraçava-te. Sorrias a mim, e eu poderia morrer. Hoje eu continuo respeitando teu silencio, perdoando teu espírito tão errante... Mas e o sorriso? Sinto falta... Não quero chorar, não quero te preocupar. Estou bem por aqui e ficaria mil vezes mais se soubesse que tu estás bem aí.

É tanto silêncio. Eu perdoei a tua ausência, mas... Uns dias, umas madrugadas, umas baladas (afinal tudo, tudo, tudo ainda me lembra você!)... E você não está aqui. Apenas aquela corda e minha insegurança. Eu te amei! Por que fostes embora, sem despedidas, sem tréguas, sem ficar mais um pouco? Anos passam e... Perdão. Eu estou bem, meu anjo.

Estou vivendo! Dia após dia, procurando aquele bom motivo para a existência. Sorrindo, chorando – é normal, é a vida. Estarei bem até o fim, meu amor. Eu, apenas eu e o teu silêncio.

Luis, antes de me despedir, queria perguntar uma coisa: roubar a própria existência foi a solução? Não, não estou desaprovando teu ato. Já disse e repito: te perdoei! Mas é que se a resposta for “sim”, eu queria tentar... Porque às vezes dói demais... Estou bem... Mas com você estaria infinito e melhor.

Meu amor, meu eterno amor, um beijo em tuas asas... Que os lábios eu guardarei para o nosso momento solene.

Me espera?

Me espera...

Fil. (o garoto do heartagram tatuado no pulso)

PS: Eu nunca deveria ter me livrado daquela algema na noite de agosto – um mês antes da tua despedida – quando brincamos de sermos presos um ao outro, na Ocean Club.

PPS:

Light Up!!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A coisa faminta

Tem uns olhos de drama operístico, pintados feito corvos lancinantes; tem o grito sepulcral na pupila negra. Houve quem se atrevesse a encarar o óculo da coisa e houve perdição. O lábio inferior carrega um frêmito cadente, como se prenunciasse a vertigem ultima, o destroçar em morte. Mas não... É apenas fome. No canto escuro, arrastando-se outrora, hoje apenas em quietude, sente o limite glacial de seu corpo: não é nenhum refúgio da existência, é a carcaça abandonada de um ser-coisa desgraçado. Imundo, renegado por deuses (todos eles), sem princípio e maternidade. No entanto, vivo! Pois a fome cercava o peito, o coração, o estômago e os sonhos.

- Vivo, logo sonho.

- Sonho, logo sofro.

As pernas da coisa quase amorfa contorciam-se de frio, às vezes juntando-se com os braços magros num movimento de força: queria fundir-se todo em vazio. Ou ao menos não chorar. Convulsionava de um lado ao outro como um pêndulo, contando as horas para o fim da eternidade e até cantarolava uns sons roucos, falseados, distraindo a insanidade que tanto a assediava. A coisa viveu dia após dia carregando o peso da escuridão à sua volta. Mas uma coisa ela amava, uma coisa ela adorava religiosamente:

Devorar.


Ah... Com brilho satânico, serpenteando dor e luxúria, fazia de suas entrelinhas iscas à carnificina. E devorava com a violência do pré orgasmo. Ririam de sua figura patética, miserável que fosse. E encararia a Eternidade castigando-a por todos os lados daquele quarto! Desde que pudesse consumir até as últimas entranhas de seu alimento vivo.


Assim, voraz, a coisa vai te cercando. Voraz, ela te seduz com tal aspecto fantástico lúgubre. Voraz, ela te chama para perto e pede: decifra-me? Voraz, a coisa faminta vai destroçando a tua alma.


Voraz, a coisa te devora.




terça-feira, 12 de julho de 2011

texto vagabundo

Estou há dias tentando escrever algo decente (não no sentido moral na palavra, não, nunca, jamais). Mas é que não paro para planejar meus textos faz uma boa temporada, nada me vem "leve e alado" - Platão que me perdoe!!

Tudo está tão cuspido, e minha boca está seca. Estou tentando, tentando, mas não restou umidade alguma aqui. Babe, nem sei se devo pedir perdão! Porque afinal, esse espaço é meu, feito para salvar meu eu. Se tu lê, é um tesão imenso sim... Mas mesmo que o mundo fosse morte (e bem que é), eu escreveria, escreveria, escreveria... Mesmo que meu peito estivesse estéril da fé de existir um Deus ouvindo a prece da minha poesia doída. Ah... Eu escreveria, escreveria, escreveria.

Tão mal, tão sem nexo - tal qual sem sexo. Assim, tentando destilar essa inquietação, verter em lágrima-verbo. Não dá certo... Apenas correm dedos pelas teclas, letras que são minhas e escapam. Não tenho história para envolver-vos: eu mesmo ando tão largado às traças, reciclando e juntando um lixo... De sonhos. Será que caí para sempre?

O pior de tudo é que tudo é real.

Escrevo sobre mim, interesse ou não. E não interessa, estou fadigado da minha pessoa boba, despedaçada. O paradigma desse quebra cabeça que mantém minha mente alta é: não consigo abdicar de minha existência. Já não posso me matar, morrer não faz sentido, viver pouco ainda. E escrever? Escrever, escrever, escrever, assim sem um 'aim' a atingir. Bichos, bichas, numa noite de férias, numa noite (mais uma) de dor de cabeça, de falta de serotonina, ouvindo Placebo, tentando preencher meu ego de algo que preste ou macule, apenas escrevo.

Para expulgar, exorcisar, resgatar, entender... Não. Para nada.

Desculpa a falta de revisão, de literatura, de magia ou poesia. É que estou um caco já faz um mês, tentei reerguer castelos n'uns e outros posts anteriores, tentei dizer: ei, sou sonhador. Desisto. A verdade é que ando desistindo e resistindo... É irresistível, não dá.

Deus? Chame a ambulância?

Deus, não me deixes, não me guie cegamente.

Eu te acharei! E terei uma boa história para contar, então. Agora, deixe-me lutar, com lágrimas e sorrisos, morrendo na cama... Deixe-me sangrando na cama like pierrot, the clown.

sábado, 9 de julho de 2011

Cinco Minutos


Nessa tinha cinco minutos e um discurso homérico a fazer. (Que para ela, nos últimos fôlegos, primeiro enganava ser platónico, por fim revelava ser mais um jogo de mentir para o vento. Tudo para nada). Uns milhares de passos dados, as horas corridas, um segundo e sem aplausos a cortina se fecharia - dádiva grega à dama troiana.

Nessa tinha cinco minutos e a Morte ao seu lado:

- Diga-me o teu sentido e eu te deixarei no mundo. Ou morra comigo, venha...

"Ah! Em que vida algo valeu a pena? Vamos, vamos, Morte. Dê uma trégua."

A trégua é valsa que leva para longe, para onde não se vê, não se sente; nem se lembra.

"Vamos, vamos, Nessa. O que te faz?... Pense... (Se pelo menos Ela parasse de me encarar com olhos de lispector!) Ah... Lembro-me de um dia abraçar aquele panda de pelúcia que eu tinha, abraçá-lo na varanda da casa dos meus avós. A tarde estava gelada e tediosa, havia cores desbotadas no céu. Lembro-me disso e apenas isso. É assim? No fim é isso?

Um calor só meu: amo um ser artificial.

A vida toda foi sempre assim, preferindo quem - inanimado - jamais pudesse negar os braços. E desse modo privava-me de ter... Ter o que? Lembro-me de amigos integralmente lindos, uns avós de compreensão singela e espírito elevado. A casa era repleta do que Deus fez, achou bom e bonito. Perdi-me na flor da idade ao permanecer virgem à boemia, mas logo desprendi o olhar recatado e entreguei-me a eu furia de ser jovem. Comi e bebi do néctar divino, escondida. Fui bacante e na ressaca pedi perdão. Sonhei zilhões no início, contentei em limitar os tais nos dedos, acabei por incluir os dos pés. E nem acabei! Não me acabei... O que então não tive por abraçar pelúcias? Reneguei algo sagrado? Era ali que estava o meu sentido de viver? Ah! Mal ensaiei o espectáculo e o tempo excita-se em levar-me.

A varanda não me pertencia; a tarde, se tentou me amar, desistiu e desceu a encosta.

Reconheço a densidade da verdade:
amigos morrem todas as tardes, descendo a encosta rumo ao que lhes interessa: eles mesmos. E as coisas de Deus? Ah... Deus... Fez o homem e caiu no erro de achar aquilo bom! De que me adiantou a timidez e, depois, matá-la? Há quem viva d'um modo e quem viva do outro. Tanto faz. E ainda sim se faz... Morte, perdoa a minha ignorância, mas não possuo a ciência do meu sentido... Se vivi, se soube viver, se perdi ou venci o mundo... Não permeia ideia alguma aqui em minha mente. Apenas sei: uma tarde eu abracei meu panda de pelúcia e senti que era frio, que era morno, que era quente. Sentei na escada abraçada a nada e nada vi. É o que sinto..."

- Então fica, que quando fores feliz na descoberta da Verdade, tu é quem pedirás minha presença. E em cinco minutos morrerás comigo.

sábado, 2 de julho de 2011

Asleep

O espírito se agita, retorce. Já não sabe se repousa a fadiga na cama ou espera o Sol pairar a manhã, ouvindo canções do mar e da lua enamorados... O que fatalmente se faz certeza é (apenas) a perda vagarosa da vida. Entre um suspiro e um bocejo, despenca as areias do tempo... Ah, existência, ah, amor, ah, noite densa...

Passa uma noiva do vento, apressada, ao leste.

E o silêncio retoma o trono, olhos que recaem nos pés, nas mãos, no horizonte atoa. Tão atoa...

Causa perdida; mais um dia de solidão liquido-gasosa; a paixão que se deita e lamenta; sonhos de poeta. Tudo dorme.

Mas o espírito ainda se questiona, entre a maré que dança cega na praia, pra mais perto, pra mais longe... Insensata... O vívido espectro se questiona. De que utilidade é tudo? Sendo pó, ao pó, vento que leva e desfaz, entrefaz aos braços dados que um dia se separarão e às mãos que hoje correm aflitas, amanhã acolhidas. Ou não. Que importa? Ah, não importa, sopra até os confins, perde-se. Deseja e queda-se na realização. Oh, jamais! A vida é um eterno desejo. Ou não.

Repousa essa angústia, deleita-te de lágrimas e as guarda na entrelinha da obra. Ou flua, flua e flutua nestas minhas reticências...


domingo, 26 de junho de 2011

Solilóquios de Desirée

"Não posso mais encontrar a sua face, feri a única parte de mim que era boa."

"É o meu amor que superabundou? Ou foi o seu espírito solto nas esquinas do mundo, trancado sob a cor verde? Jack... Retorna ao nosso pó, não suporto o peso da limpidez. Não suporto ter que te amar de longe. De longe, eu admiro o nosso amor. E dói vê-lo assim, como o horizonte inatingível."

"Pode haver outro modo de viver minha vergonha? Um modo mais monocromático? Essas cores tanto acusam, prefiro umas nuances no tom da minha alma. Cometi um erro: deixei-me ser feliz em sua íris. Mas ela não olhava para outro lugar senão ao universo lá em cima. Desculpa, sou pouco demais para ser universo. Meu pó astral é artificial, meu brilho é baixo, comprado com desonra! Quando foi que deixei de ser tua alma gêmea para ser cativa das tuas asas de bronze, Jack-não-meu? Quando foi a última vez que vendi o meu corpo para você, qual a primeira que entreguei-o todo puro? E você levou longe daqui, levou para teus mares e marés, longe daqui."

"Para de chorar, Desejo. Para de querer ser desejo! A noite não é tua mãe, não mais. Apenas olha pra frente, desvia da paixão, mantém o peito aberto - quem sabe uma lâmina da brisa rebente a coronária?"

"Para de querer a morte! Se os seus braços são ainda mais frios que a falta dos braços dele..."

"A vida podia ser um tanto menos tirana... Eu podia ser um tanto mais leve, o Sol podia ser um tanto mais quente, a noite mais linda, Jack meu. Tudo que foi ilusão do passado podia continuar me iludindo. Só para eu aguentar mais um dia..."

"... Só mais um dia, se você voltasse a sorrir para mim."

Quedou-se em frente a penteadeira, largou uma lágrima cor de albatroz, só, no centro do Antártico.


"Eu faria tudo, se você voltasse a sorrir para mim."

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Deus me deu um paraíso

Um Eden que cresce em cores, supera os aromas e eleva o canto - assim magicamente - dia após dia. Luz após luz, o Sol me mostra o quão lindo é o refúgio que me abraça! E a primeira semente, essa deitou em meu peito (lembro tanto) na tarde de maior êxtase: quatorze de fevereiro.

Ah, te vi, te amei, te fiz cativa de meus sorrisos e alegrias. Pedi que houvesse fé para ter-te mais e mais e mais. Quanta saudade enquanto a botão florescia! E teu veludo ascendeu meu lirismo. Hoje, teu lirismo é que ascende à minha pele a doçura de ter-te em abraços... Mil e um, tão pouco.

Porque, ai, desejo-te, procuro-te, choro em ti. Não há nada mais perfeito que esse amor, esse que não dói; que emana asas de anjo sobre meus medos e cuida de vibrar todo regozijo de nossa alma (uma só). Preciso da tua presença como se não houvesse um amanhã para me afogar em teus olhos... E talvez não haja mesmo, pois tudo é hoje e eternamente agora! Então te amo, te amo, te amo, te amo, bem assim no tempo presente do indicativo.

Thaisy Salles, cuida de mim até o fim? E... Casa comigo? *--*

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Meu amor me deu uma palavra

Eu lhe disse que daria a imprecisão dos versos meus, motivados do além, salinos e epifânicos. Mas o que derramei vestido de bálsamo foi o sabor do meu sulco vívido sanguíneo, desfazendo-me da epiderme que privava ao âmago a luz ultra violeta; ultralove.

E vomitei bile nas entrelinhas da noite, densa e sonhadora;


E dancei numa pista de punhais, bacanal tal qual litúrgica;


E beijei os pés do Anticristo, meu príncipe-negro perdido;


Perdão... Da vida o sal veio em demasia, desfez minha máscara de inverno... Da vida fartei-me de amargura, saciei-me com absinto (eu, ébrio das vozes do Helicão). Aceita minha graça, é que decaí do clímax e o que vejo são apenas os olhos que sonhei, d'um verde em estepe - as que nunca tocarei.


Ah, esse verde... Do brilho vejo o céu, da nuance vejo teus sonos em meu colo vazio; que cobre todo o mundo e deixa meu peito congelar em treva; que, de tão belo, começou a doer... Ah, esse verde, esse presente, essa palavra...

Essa epifania? Afasta de mim.
(que quero retornar às águas rasas!)

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro

terça-feira, 7 de junho de 2011

entorpecido

(tanto tanto que apenas consigo sorrir e, envolvido por esse amor, desaguo em sono profundo... Teus olhos é o mundo...

Sonhando contigo)


~

sexta-feira, 3 de junho de 2011

So sorry

"Peça àquela estrela que nunca sequem as lágrimas tuas, peça que a cadência seja por todo sempre."

A luz que penetra o quarto de hospital já não é a mesma. Alice sabe, anjos deslizam em volta de seu leito. O corpo já não se difere da alma, todo leve, todo pesado, indiferente à enfermidade: hoje é o dia de alçar voo. Um instante de paz e ela olha pela janela. O que poderia estar pensando a menina dos olhos que umedecem e flutuam líquidos, morrendo nas arestas do cubículo anil obnubilado do céu?


Um dia, nas paragens da infância... Outro
in bloom. Tudo foi em um dia, tudo numa manhã onde as nuvens viajavam ao vento, cortinas do paraíso.
Então viveu? Serena e reluzente, viveu. Mas o tempo diz que acabou-se o pó da vida, hora de dizer adeus, hora de render-se e crer que, no fundo, é bom. O abraço do sol é bom, ainda hoje. Lá cristaliza o verdadeiro lar.

Ah... Haverá alguém a esperando do outro lado, a velejar?...


Difícil olhar o céu, parece tão vago... Solitário... Mas Alice pode sorrir, descansada, pois ainda num instante - qualquer um - o anjo que a observa ao lado esquerdo da cama tocará seu coração e as asas serão abrigo e berço. Será sim.


Ah... Ela está caindo, ajoelhada à fatal verdade, tentando sobreviver à morte, caindo, em glória, sentindo o Sol sob suas memórias.


O doutor entra, diz, conforta com os olhos. E assim, do mesmo modo, aflige. Não há mais ninguém, nem no mundo. O ar se escurece, ensurdece. Hoje não correm crianças pelo parque, uma rosa é apenas uma rosa e Alice um dos seres que perecem na terra. A cortina torna-se negra, o dia escurece... Ensurdece a paz. Apaga-se a última vela e um anjo coberto em ébano vem. Não tem asas nem voo algum, apenas olha e ceifa.


"Estrelas cadentes são apenas feixes de luz em fogo e o cosmos, um sem-lar. O céu? Eterno vazio."
Menina, eu sinto tanto...



sexta-feira, 27 de maio de 2011

La Mort


"Eve pode morrer em paz. Perdeu o motivo e a luz da salvação, passo a passo, rendida pelo mal... Eve pode abrir as ventas da vida, o sangue escorre debaixo d'agua, o corpo afogado de angústia e desolo. Enfim, Eve pode morrer..."

Não venhas tu dizer que sente muito. Tudo inicia com boas intenções quando o romance é novo; você tentando mudá-la, escondendo a penúmbra com incandescência artificial, beijando-a com amargo sabor. Como se depois do arrebol vespertino não houvesse treva na encruzilhada! Pensa que muito ajudou tornando-a dependente do teu sujo favor. Favor, porque aquele veneno degustado qual vinho nunca jamais nem deve ser nomeado amor. Nega tua lágrima agora! Eu bem vejo todo o vazio que escondes. O cravo que cuspiste na sepultura logo apodreceu, querido. Da vez que pisou, da vez que rompeu as artérias, da vez que mentiu promessas, da vez que fingiu carícias, da vez que salteou santidade. Deus resguardou todas. Então não adianta lavar as mãos, o paraíso jaz cravado em ti, quando apunhalaste a Vida. Acabou... Vá viver teu insigne rastejo.

"Sou eu quem à Eve velejo...
(até a consolação eterna)"

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro

terça-feira, 24 de maio de 2011

Solilóquios de Desirée

"O amor sempre foi um adereço para as putas. Desde muito, as paixões avassaladoras de umas e outras damas da noite foram motivo de literatura, arte plástica e - num todo - fetiche social. Quem não se encantaria pela trágica história de uma linda condenada ao exílio do romance verdadeiro? Tomada pelos prazeres de vís homens enquanto presa a solidão? Sem um amado?..."

"Quem não se encantaria: eu."

"Sabe o que é? Hoje me lavei com mais esmero. Não mais me engana quem diz que o amor é uma virtude, algum galardão a ser mostrado com orgulho. O primeiro que amou não pertencia a uma dinastia soberana, nem cingia-se de servos... Isso não eleva, não purifica, o amor assim não nasceu no plano celestial (Deus nos amou como pai)! Ao vento que tenta acariciar minha face clonando a epiderme do amado, eu o faço recordar: és gelado. És vento, eventual."

"O que foi afinal que transcendeu? Eu estou viva; você, intacto; o mundo nem rompeu a rotação e Deus sonha. Tudo como antes - cada átimo."

"Nada curaria o rompimento da virgindade... Tão pouco o véu descoberto poderia ser resgatado: a face foi vislumbrada. O que se viu? Lúcida, febril, ávida, taciturna; putrefata semente. Antes e depois do amor. Antes e depois."

"De que serve? Rendição não existe para putas. Encanta-te?"

"Escarneço da imagem ridícula no espelho. Antes e depois do véu. Mudou o curso do Universo? Astros desfizeram seus segredos? Conta o teu mais lindo romance e vê se algo brilha. O teu mais lindo, mais lindo, de olhos verdes."

"Mas algo morreu. Sim, sim. Minha impureza. Caí na contradição: amo, e por ti - o mais lindo - seria a mais linda. (Mas não sou)"

Deu uma ultima olhadela no espelho, o batom vermelho lhe irritava, e foi para mais noite ardilosa. Na garupa da moto, percorreria no limite, agarrada à frieza de Jack, pela estrada negra e eterna.Viveria, só mais um instante.


"Só mais esse instante."

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro






domingo, 22 de maio de 2011

A Filha do Vento

(Intertextualizando almas):

Verônica deixa para trás um último véu. E até houve alvura! Houve cintilância, veludo e perfume maciço. Agora é isso, o orvalho gelado escorrega pelo mármore, o rosto descoberto emociona-se com o vento e a nudez da madrugada... Ela vê a lua que ainda é cheia, tão densa quanto a dor latente, lunática. Crateras e os olhos verdes pairando por detrás das luzes da cidade.

Onde foi parar o último véu? Desprendeu-se do espírito distraído, desvairado; sem glória. Percorre o mundo, tolo; percorre o mundo em busca do sagrado gêmeo de paixão. Como se houvesse... E apenas resta uma pureza solitária.

-Volta, cobre a promiscuidade de Verônica! Cobre a vergonha de amar. Que dói.

Numa exaltação frenética ela vomita; numa exultação cadente a noite se afunda em seus olhos - ela só quer poder tirá-los de ti. O céu desce vazio, a ventania dança vazia, o mundo peleja... Vazio.

E você... E Verônica... E eu...

Tudo bem... Tudo bem...

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro