quinta-feira, 28 de abril de 2011

confuso e de má qualidade

Que regalo de traição! É esse teu ósculo farto de adoração.
És Judas por ser meu amado, por trair meu coração calado.

eu
-Vamos discurtir amor?
-Mas eu não sei como é.
-Sorte tua.
-Então não é bom?
-Ah, é sim. Mas...
eu

(CENSURADO)

-Vamos discutir...
-Espera! Detesto discutir. Sobre qualquer coisa.
-Vamos sentir então.
-É... Você...
-Não. Cala e sente.

O garoto burro não presta atenção no que diz o espectro sussurrante.
Porque ele sabe, não quer ouvir.

"que te amo... que te amo... que te amo"

Amar: verbo intransitivo, confuso e de má não, péssima qualidade.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

She is my sin


Quem poderia ser a dama de roxo? De certo que eu não poderia ter sido. Fui mais para lilás, correndo nos campos de trigo, outrora caminho de paz.

Naquela outra vida...

Então, fostes tu a dama com veludo cor real a enlaçar minhas entranhas nas tuas? Com beijos do pecado, carícias de lilith a envenenar minha ignorância?


Fui Eva. Tu, Serpente.


E como velei teu fúnebre rastejar até os grilhões do inferno, como pedi perdão ao Imaculado por tua alma - engano do destino.


Fui Jesus. Tu, Judas.


Não... Fostes o beijo, eu o desejo. Nós: traição e o perdão do mundo. Muito necessário. Tantas víboras no paraíso. E minha bruxa de asas crucificadas no Hades eterno.


A dama de roxo que primeiro exalou o aroma da minha rosa em escarlate ardor.

A dama de roxo que primeiro amou os espinhos de meu frágil karma.

A dama de roxo, não de outra cor, a dama caiada em túmulo e tumulto.


Salteadora de almas, de paixões. Ah... Queria morrer por ti, Deus. Só para que o mundo pereça, e eu - eu de Lesbos - possa amar. Minha dama, minha morte e pecado.

"A sin for him
Desire within, desire within
Fall in love with your deep dark sin" - T. H.

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Formas fixas: Soneto Italiano

Soneto Ocioso -__-

Que se faz do poeta nas tardes a vagar,
balbuciando fonemas d'um outro mundo,
bocejando desejos d'algo tão profundo
quando a luz passa preguiçosa e devagar?

Onde se esconde o vento, aos ouvidos roçar?
Outrora dançando profano e imundo,
hoje sussurra tal qual um moribundo
nem prece nem regozijo; é um divagar

Sobre-nada derramado em azeite
num corpo deitado, sagrado e bruto.
Diamante, intacto poeta em deleite.

E de verso em ócio, todo poema é fruto,
lágrima é virtude; dor, sangue e cicatriz, enfeite.
É ócio, é aquilo de poesia e perdição: desejo mútuo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Temporal

"Rosas: raios solares; dores: dardos lunares.

Tempo: tanto tirou; tarde, tendenciou à tristeza. Tímido.
Tempo: róceo sorriso soturno. Sádico, sentenciou a beleza. Todo tímido.

O dia correu
A noite desceu
Eu e Você,
Você e Eu.

Rosas: dardos lunares; dores: raios solares.

E tudo de novo, vez e outra, nova estação.
E tudo é novo, toda vez, temporal tentação."

[isso foi o Fil cansado de estudar literatura/sonoridade da poesia pra fazer a coisa na prática. E pra marcar compasso, ouvindo "Gone With My Sin"]



sábado, 9 de abril de 2011

Sarai

"Não sei se é pertubação ou incompetência. Apenas sei que há tempos não consigo juntas as peças e enxergar algo nítido. Nada além desses confusos lamentos que ressoam do meu ser... Reencontraria eu a manhã de ternura? Ou jamais a tive em meus braços? Sou filho das sombras, nascido do ventre da dor e da poesia."

terça-feira, 5 de abril de 2011

Requiem


Anônimos circuncidam a vida, silenciosamente resignados. Com seus passos, com seus traços. O vento vai e vem tão louco. Vai e vem;

Os telhados se desmancham com as chuvas, as esquinas escurecem desejos e a luz dos faróis cessam de transgredir a treva sacro adorada. Treva sagrada;

Sons imergem na atmosfera; um fluir de águas, fluir de prantos, a gargalhada ébria borbulhando nos ares noturnos. Um tiro, uma prece; E o amém.

Então vem a soturna hora. Tão fácil, tão digno, a Morte dança com a benção do Deus, tocando a alma do mundo. Coisas que acontecem apenas uma vez: ela se agasalhava com os carinhos do frio, velando o próprio corpo, de volta para a casa.

"Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona eis requiem
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona eis requiem
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, dona eis requiem sempiternam"

sábado, 2 de abril de 2011

De olhos fechados


Ainda acredito em você, nas dores que dedicas a mim, exalações de uma infidável lamentação. Não precisas me amar, não tens que me querer. Deixa só eu respirar, só por um tempo, só por mim?


Saturnine abraça a noite e um tanto de licor. Instintiva, fugitiva. Como era antes deles? Era a menina introspectiva; mesmo que uma vadia, ainda sim usava de uns segundos para reflexão existencial. Um e outro dia, pelo menos... Um e outro arrependimento, pelo menos.

Hoje basta o batom vermelho, os olhos rasgados ao luar, o corpo flutuante nas mãos do vento. Quem toca, quem machuca. Importa? Se sangra, se apodrece? Deixou de tudo, porque Tudo era Abismo.

(não é mais?)

De olhos fechados, dentro, em si é o maior abismo. Importa o que está de fora, então? Saturnine apenas vive, descendo em espirais cegas, chorando como um bebê, rindo como um bebê, pecando como um bebê.

(até quando?)

Você não tem que me amar, deixe me para trás. Toda a escuridão é minha. Algo enfim é meu. E não és tu. Pois bem, não me queiras mais: meus olhos se fecharam, para sempre, para tudo.

Anéis de luz negra sobrevoam a aura caída de Saturnine;
abismo e solidão.