sábado, 2 de abril de 2011

De olhos fechados


Ainda acredito em você, nas dores que dedicas a mim, exalações de uma infidável lamentação. Não precisas me amar, não tens que me querer. Deixa só eu respirar, só por um tempo, só por mim?


Saturnine abraça a noite e um tanto de licor. Instintiva, fugitiva. Como era antes deles? Era a menina introspectiva; mesmo que uma vadia, ainda sim usava de uns segundos para reflexão existencial. Um e outro dia, pelo menos... Um e outro arrependimento, pelo menos.

Hoje basta o batom vermelho, os olhos rasgados ao luar, o corpo flutuante nas mãos do vento. Quem toca, quem machuca. Importa? Se sangra, se apodrece? Deixou de tudo, porque Tudo era Abismo.

(não é mais?)

De olhos fechados, dentro, em si é o maior abismo. Importa o que está de fora, então? Saturnine apenas vive, descendo em espirais cegas, chorando como um bebê, rindo como um bebê, pecando como um bebê.

(até quando?)

Você não tem que me amar, deixe me para trás. Toda a escuridão é minha. Algo enfim é meu. E não és tu. Pois bem, não me queiras mais: meus olhos se fecharam, para sempre, para tudo.

Anéis de luz negra sobrevoam a aura caída de Saturnine;
abismo e solidão.

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