terça-feira, 30 de agosto de 2011

Bulimia literária:

A besta muda querendo escrever algo bom e bonito, para enfim descansar no sétimo dia - como fez nosso deus cristão. O problema é que, assim como o tal divino, a coisa tá péssima. Feia.

A mula muda digerindo mal as doçuras, gulosa inconsequente! E agora pesa e dói e pune e retorce. A coisa tá péssima. Feia.

É o que temos para hoje: vômito e refluxo.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Solilóquios de Desirée

"A genética do suicídio vem aflorando imponentemente sob minhas veias. Espera, segura, liberta e relaxa o fôlego: não me matarei. Não que falte vontade... É que de modo algum pretendo pisar os mesmos passos de minha mãe. Quero os meus próprios, os que me levem ao precipício (ou pior, à sinfonia errante inacabada). E também, lógico, falta a coragem dos covardes."

"Ai, estou tão fadigada de manter-me online. Fadigada de ignorar as janelas acesas desejando manter a fática. Não sou essencial, e quem é? Tudo o fazemos é para manter-mos vivos afim de. Se você me chama é para buscar o contato a fim de. E eu aqui, tolamente falando aos meus ouvidos surdinos a fim de. É a insistente busca de um sentido para essa coisa amorfa que é a vida e o mundo."

"Redondo por excelência. É a forma perfeita para desgrenhar o infinito."

"Jack: o meu infinito."

" Eu bem sei, ele está todo quebrado em algum quilômetro da pista enegrecida. Seu sangue penetra o asfalto frio e seus olhos assustados, profundos no fundo da órbita ocular, tentam ver algo além da lua vibrante. Sua moto - único bem presente - jaz rebentada, ali... Ah, meu homem... A existência tem esfolado tua beleza cinematográfica? O rebelde tem sido prostrado pelo labor inebriado dos dias? Eu bem vejo que te abateste no descaminho. E também muito bem ainda me dei conta: nossas vidas não passam de trágicos acidentes."

"Como posso socorrer meu monstro amado se o ventos me esquartejam a todo modo, de todos os trópicos e coordenadas? É verdade, deixei meus antepassados para penetrar nova angústia. E ainda me derramo na dor... Sou a última da geração dos feridos, Deus queira ou não."

"Eu poderia tentar ser feliz. Não. Estaria seguindo o mesmo caminho."

"Eu poderia ser feliz. Não. Estaria me levando ao impossível."

"Ainda não, Desirée. A felicidade não é questão de possibilidade, é o que pinta-se no surreal. É feliz aquele que enlouquece."

"Então, Jack, enlouquecer-te-ei com meus verbos e beijos a fim de fazermos sentido um ao outro. Por favor, algo tem que me manter aqui além do medo, então retorna! Retorna e abraça o que não fomos."

- Por que tanta saudade do que nunca tivemos?

"Nunca encontrarei solução e alívio. Por mais que insista em ver a beleza, abrir minha alma à caricias e me entregar ao gratuito amor... Nem que o vento me leve aos quatro cantos e eu veja o quinto. Eu ouvirei atentamente o chamado e lembrarei do meu passado: Um Nada. Olharei os campos a volta dos meus passos, minha atual verdade: Um Nada. E eis o futuro: a infindável tentativa de encontrar a motivação para essa andança. Nunca, nunca, nunca encontrarei solução e alívio."

"Então eu durmo."

... Boa noite, Desirée.


domingo, 21 de agosto de 2011

De olhos abertos


"Se a chuva realmente fosse o orvalho de Deus ou qualquer outro signo de bendição, o tremor dos soluços boldinos não me possuiriam assim, pressionando minha garganta desesperada e meu olhar tosco em volta desse ritual dionisíaco que é a vida. Sou mênade convertida. Protesto essa existência subjugada. Prostituta exausta da catarse. Quero é viver cegamente."

Como ela pode sustentar tanta podridão num coração que vale o infinito do mundo? Saturnine deserda a esquina e segue em frente, tentando não ver a bestialidade da vida, tentando embriagar-se o tempo todo de desamor, como se fosse coisa possível esquecer que tudo é o fundo do poço. Ainda tenta lutar contra a insensatez da cama suja de sangue feminino, líquido branco do prazer e toda aquela imensa de inércia. Nada vale um sorriso, e sorri com o conhaque usurpando sensações.


Depois lança a taça na parede. Mil estilhaços são deixados para trás.


Quando o batom vermelho e o torpor do estupro consentido serão o suficiente? Nunca? Ah, Saturnine, descansa da dança dos anéis de melancolia. E chore, chore como um bebê no colo do vácuo do universo.

"Não me ames, não me leias: é que resisto à luz, sei. Quereria outrora ser o inanimado planeta Terra, néscio face a sua tragédia. Mas sou Saturno, de olhos abertos cintilando silêncio e lágrimas o tempo todo."


Anéis de luz negra sobrevoam a aura caída de Saturnine;
abismo e solidão.


domingo, 14 de agosto de 2011

Igor,

Quando a paz dissipar-se da tua pupila reprimida...
Quando a luz transgredir tua solidão onírica...
Quando demônios vociferarem cabala negra aos teus sonhos...

Ah! Então no ato eu me elevarei à fé em prece: "deixem-te os espectros em penumbra, retomem os cantos do mundo e partam de atormentar-te o cálido amor ferido".

Ávido de entregar-te feitiço lunar sempre estarei; de esconder teu coração no acalanto de minhas pálpebras adormecidas para que não retornes jamais às tormentas malditas. A ti dedico meus hinos de silêncio, breves notas de quietude. Embalo e protejo...

...Com meus versos vazios eu danço e canto e decaio e amo.

Vem!

E repousa esse fardo em meu peito, anjo místico; dá-me tuas cicatrizes e sangra sob meus lábios - eu tomo tudo, devoro, afasto. Se doer, se o olhar cair turvo, fugitivo... Tudo tomarei, pois por ti renasce do limbo pétalas que cativam minha epiderme, tuas pétalas de ser-poeta hipnotizando minha escuridão. Amo teu carinho, amo teu sorriso, tua magia e teus beijos.

Para a eternidade te quero assim, lindo, afável, amando comigo. Então tudo tomo.

Desse desejo sobrevivo, desse bálsamo ágape anseio.


domingo, 7 de agosto de 2011

Nichya

Metchty
Nos relevos do frio em Moscou, duas garotas caladas revelam olhares cúmplices uma à outra. No alto do terraço onde elas escondem seu amor, cresce em meio ao limbo, íris azuis, trêmulas e frágeis (como o pulsar contido do alvor eslavo em arrebatamento amoroso). Poderia o mundo ser mais belo que aquela cadência maldita? Uma cidade qualquer, enegrecida pelo silêncio da memória, pedante... Lírica onde os pássaros ousam cantar, gótica nas horas últimas da tarde. Um submundo superlotado de solidão. E no alto do prédio, onde flores relutam ao congelar do esquecimento, deitam duas garotas enamoradas pelo fim. Haveria chance de serem mãos dadas em plena luz burguesa? Beijariam-se aos domingos no banco do parque sem a perplexidade arrogante e o dedo acusador do homem? Casariam, teriam filhos e amantes? Seriam como a brisa do verão ou como o gelo do inverno?

Slyozy
Eram como lágrimas, hoje. Purificando sonhos renegados, renunciando a vida para ter-se. Escondidas no amargor da meia noite. Mas elas se prometiam: um dia tudo mudaria e sonhos não seriam mais largados no caminho! Esse seria um só. Tudo delas.

My ne v posledniy raz
Os outros não deixarão que elas escapem facilmente; as doces memórias, os sorrisos (rosto e corpo) serão maculados ao toque do sino da catedral. deus-Homem acusará, a lei acusará, a sociedade acusará. Mas eles não devorarão as suas esperanças, adiante haverá luz branda e lar. Por hoje o dia será como a noite, a noite tal qual manhã solitária... Os outros as separarão, porém os olhares outrora tão únicos e depois ultrajados pelo rompimento brusco se encontrarão. De novo, essa não será a última vez.

"A lua escuta os espasmos do coração. Elena fixa sua alma na mirada de Julia e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."

Refleks
Toda essa perseguição ao amor detém-se à reflexos incoerentes de um sexo incorreto. Quando as regras são quebradas em declarações de paixão e poesia ou com o frêmito abrupto de mentiras; quando há o medo de ser um olhar solitário, de encarar a verdade da humanidade: (que não se faz piedosa a ninguém - que cada um é só por si só); quando o espelho revela o brilho de meninas quebradas.

Glazá
O tempo já parou de contar as horas e o vento desistiu de violar a epiderme alheia. Ecos do vazio, i-mundo cercado de nevoeiros soturnos e indícios de chuva. Abandonar-se-iam em beijos clandestinos, entretanto hoje elas preferem ser seres errados, num abraço. E de soslaio uma seduz a inocência da outra com o pecado de se amarem, olhos que suplicam: 'nunca me deixes, essa não será nossa última vez'.

"A lua escuta os espasmos do coração. Julia fixa sua alma na mirada de Elena e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."


(Nota de rodapé: esse texto foi inspirado na música de mesmo nome, da dupla russa t.A.T.u.. Só dei uma traduzida e adaptada vagal, hehe)

Lyubye otdam mechty
Za to, chtob tuda, gde ty
Ty znaesh' menya
Ya vse promenyayu
Lyubye otdam mechty

Profil' i anfas
Zhivymi voz'mut ne nas
My otvernemsya
My ved' vernemsya
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

Prosto eto pefleks
Nash neprabil'niy tekst
Ili slovami chto-to slomali
Ili sovrali bez

Strah odinokih glaz
Nikto ne poydet za nas
Kazhdiy odin
Ne uhodi
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

sábado, 6 de agosto de 2011

A melhor coisa a se fazer


Quando um "poeta" (ou garoto/homem metido a escritor) não consegue expurgar sua aflição nem com palavras, quando essas não se fazem reconfortantes... Nem explodem magma fora da perturbação infernal que se faz no âmago.

Quando a garganta está em nó - aquele que evita ser o nó de um suicídio. Quando é tragédia... Não! Pior que a dor, é esse vazio.

Quando o nada violenta até a entrelinha... O melhor a se fazer é deitar o corpo cansado e fingir que a alma descansa no sono. Quem sabe amanhã... Um dia melhor... Um pouco melhor... E versos dignos.

(mas ele, o poetinha, insiste e escreve... ah, escreve escreve escreve...)

"Se Ele me amasse..."

"Se Eu me amasse..."

"Mas me suporto. No sono eu me suporto."

A pior coisa que encrava no destino do mísero artesão de palavras é a insónia. Fecha os olhos e finge que haverá o bom amanhã. Finge que haverá o amanhã - eterno presente. Dorme. Dorme... Deus promete.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ensaio sobre a fragilidade

Perdão, quebrei antes mesmo de constituir a obra-prima. Sou um rascunho malogrado, é isso.

"Be my friend, hold me, wrap me up
Unfold me I am small, I'm needy
Warm me up and breathe me" - Sia