sábado, 23 de junho de 2012

À espera

Esse tipo de descontrole poderia me deixar um pouco mais em paz. Ver que eu estou suficientemente virado para o canto do mundo, sem exigências, modestamente acocorado na vida. Esse descontrole ondular poderia perceber que não atoa dei as costas a tudo; ser um mínimo mais maduro e conter as suas traquinices, deixar-me tomando fôlego honestamente, soluçando dignamente.  

Mas não. E vem à gargalhadas, todo em excesso, pega-me pelo braço e inicia três mil danças pagãs mais corrida e pique esconde. Ah, o pique esconde! Some... Mas sei que ou aqui ou acolá ele retornará ligeiro fazendo festa. Descontrole não se contém, esse descontrole me aluga... Sabe o que me faz?

Em sua presença eu choro pelos homens, eu tremo de frio debaixo do cobertor e continuo a chorar os homens. Faz-me viver transbordando, e porque a raiz do meu espírito é baixa o que despenca aos montes são lágrimas irracionais. Ele me faz amar e rasgar as vestes de saudade, ele me faz notar as milhas de distância e engolir o Atlântico. Ainda mais, quando o descontrole me imita, eu duplico. 

Ah! Descontrole não enxerga minhas pílulas. Descontrole não está nem aí, quer voar e me levar consigo. Daqui? Antes fosse. Levar para mim mesmo. Dentro não posso.

O Descontrole me segredou: é o espelho da minha adoração e o reverso da loucura.

(Se eu tivesse coragem, enlouqueceria... Estaria seguro...)

*

Mas ainda outra vez, passos prostrados, me acomodo no canto procurando uma trégua, esperando fremente o próximo assalto inevitável do Descontrole. 

Se eu tivesse coragem...