sexta-feira, 22 de julho de 2011

Explica-Me


Ah, quem dera eu padecesse de martírios! Mas é que a vida tem sido muito benevolente para comigo. E desse modo a minha tal dor contínua paira numa continuidade de culpa: não tenho direito sequer às águas amargas. De que sofro, então? De ser feliz? Ou de não o ser? Porque nos jardins mais belos da minha estadia na Terra eu levo a obrigação-karma da ventura! (um verdadeiro atentado ao pudor).

Deixa eu cair um pouco? Mesmo que não haja desgraça suficiente a me induzir aos precipícios, deixa-me desabitar o plano seguro e me lançar desesperadamente às trevas?

Ou dê-me motivos para tal sofreguidão. Diga, o que te incitou presentar a dor ao meus espírito?

(estou inventando culpados para fugir do castigo. no entanto eis o grande paradoxo: o castigo sou eu)

Rosas prateadas e o sorriso rubro da Lua me enchem da Graça, às vezes.
O apreço esmerado de meus amigos não ressuscitam meus ânimos, às vezes.

Que me prostre, que me regozije! Que eu decaia numa paixão onírica e acabe meus dias solitário, num pó de abandono! Que seja feita a Tua vontade e não a minha... Mas diga, unicamente revela: Por que? De onde vem a semente? Para que eu saiba a cor do meu riso sincero e de meu pranto mudo. Para que eu cultive e cultue meu futuro Paraíso Celestial ( para que eu O tenha, por favor!)

Olá? Explica-Me?


Era uma vez... Ah, foda-se!

E eis o mundo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carta a meu doce suicida

My Sweet 666

Os tempos se passaram e meu ser ainda ensaia em se aquietar diante de ti. Como vão teus vôos no plano sublime? Estás bem aconchegado? Sonhas com campos floridos e suaves em teu dormitar tranqüilo? E quando desperta teu espírito eterno, encontra a paz nos aromas que cercam tua aura plena? Quero muito saber... Anseio em ter visões de ti, toques na madrugada, saber se estás bem... É que as rosas que deixo no caminho são para você. Todas elas.

Meu lindo, essa noite sonhei contigo – eu sei. O destino, misterioso e soberano, não me permitiu recordar as linhas que sobrevoaram meu sono, mas sei, eu senti! Noite passada beijaste-me os lábios. Despertei como de cem anos e, ao retornar vagarosamente à realidade, vi: cem não, quase dois, apenas. Desde que tu fostes bruscamente, levado pelo fado maior, o fado da vida. Desde que tu fostes levado por aquela corda maldita, enlaçando nossos fôlegos e marcando para sempre nossas vidas. Mas quero que saibas que eu te perdoei. Perdoei teres achado que tua vida em mim era vã, perdoei a impressão que tinhas de que se a morte te enviasse passaporte, eu aqui nem ao menos uma lágrima derramaria.

Eu sei, foram as nebulosas do mal. Tu não vias, tamanha era a dor de existir assim caído. Eras um anjo, meu anjo! E os vôos da Terra te cerravam as asas.

Como tentei te consertar! Cada gota de sangue que pendia em minha pele, eu suscitava carinho na tua. Fiz tanto e no fim (fatídico fim) não fiz nada. Tu ergueste aos céus a ultima esperança e nem choveu... Eu não estava lá, mas tu estavas bem aqui em meu peito. Ainda está. Tu ergueste a cabeça e enfrentaste o medo da morte.

A todo instante queria eu juntar teus pedaços e revidavas: “não estou quebrado”.

Minha fortaleza! Enquanto eu chorava na cama, tu vinhas disfarçado de intransponível e afagava meu pranto tolo. Às vezes chorava comigo, ás vezes ria-se de mim e eu me amuava num canto, indignado com tua frieza em frente a minha ferida... Mal concebia que era tudo fantasia, cena de teatro. Tu rias com um torpor de angústia escondido na pupila comprimida. Fez-me pequeno para te assegurar que serias tu o grande, o forte, o refúgio. Minha fortaleza...

E desabou. Mas eu te perdôo.

Ah, minha luz ferida... Hoje vais bem e livre, não? Diga-me que sim! Todo o meu despertar, o brilho de meu sorriso tentando imitar o teu, tudo eu faço por ti. Não quero fracassar mais uma vez... Deixei ires ao encontro soturno do fim, deixei caíres do maior precipício. Eu que dizia ser amor!

Diga que vai bem... Dedico-me inteiramente ao teu sorrir.

Se faço poesia, se canto nossas canções góticas, se danço na escuridão lacrimosa, tudo! Tudo por você. Até prece eu dedico aos céus.

Venha cá, dizes: desse outro lado é bom? Tens ainda o mesmo olhar misterioso, a face d’um anjo calado? Te reconhecerei quando chegar ao teu lado? Promete que me esperarás daí e me levarás até os confins mais adorados do Paraíso? Porque éramos tão gêmeos em terra, é certo que tudo que no céu tu adoras, adorarei também. Como é Deus? Ele É? E cabemos todos no Seu colo? Porque não te largarei um segundo da eternidade: será tão pouco para te amar do modo que mereces.

Sabe, é madrugada. Lembra das nossas? As que nos pertenciam? Era doce e lascivo. Adorávamos nos amar, mas depois tu viravas do outro lado da cama e se calava sacramente. Eu sempre soube que não poderia transgredir teu silêncio, então deitava minha fronte em teu peito descoberto e abraçava-te. Sorrias a mim, e eu poderia morrer. Hoje eu continuo respeitando teu silencio, perdoando teu espírito tão errante... Mas e o sorriso? Sinto falta... Não quero chorar, não quero te preocupar. Estou bem por aqui e ficaria mil vezes mais se soubesse que tu estás bem aí.

É tanto silêncio. Eu perdoei a tua ausência, mas... Uns dias, umas madrugadas, umas baladas (afinal tudo, tudo, tudo ainda me lembra você!)... E você não está aqui. Apenas aquela corda e minha insegurança. Eu te amei! Por que fostes embora, sem despedidas, sem tréguas, sem ficar mais um pouco? Anos passam e... Perdão. Eu estou bem, meu anjo.

Estou vivendo! Dia após dia, procurando aquele bom motivo para a existência. Sorrindo, chorando – é normal, é a vida. Estarei bem até o fim, meu amor. Eu, apenas eu e o teu silêncio.

Luis, antes de me despedir, queria perguntar uma coisa: roubar a própria existência foi a solução? Não, não estou desaprovando teu ato. Já disse e repito: te perdoei! Mas é que se a resposta for “sim”, eu queria tentar... Porque às vezes dói demais... Estou bem... Mas com você estaria infinito e melhor.

Meu amor, meu eterno amor, um beijo em tuas asas... Que os lábios eu guardarei para o nosso momento solene.

Me espera?

Me espera...

Fil. (o garoto do heartagram tatuado no pulso)

PS: Eu nunca deveria ter me livrado daquela algema na noite de agosto – um mês antes da tua despedida – quando brincamos de sermos presos um ao outro, na Ocean Club.

PPS:

Light Up!!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A coisa faminta

Tem uns olhos de drama operístico, pintados feito corvos lancinantes; tem o grito sepulcral na pupila negra. Houve quem se atrevesse a encarar o óculo da coisa e houve perdição. O lábio inferior carrega um frêmito cadente, como se prenunciasse a vertigem ultima, o destroçar em morte. Mas não... É apenas fome. No canto escuro, arrastando-se outrora, hoje apenas em quietude, sente o limite glacial de seu corpo: não é nenhum refúgio da existência, é a carcaça abandonada de um ser-coisa desgraçado. Imundo, renegado por deuses (todos eles), sem princípio e maternidade. No entanto, vivo! Pois a fome cercava o peito, o coração, o estômago e os sonhos.

- Vivo, logo sonho.

- Sonho, logo sofro.

As pernas da coisa quase amorfa contorciam-se de frio, às vezes juntando-se com os braços magros num movimento de força: queria fundir-se todo em vazio. Ou ao menos não chorar. Convulsionava de um lado ao outro como um pêndulo, contando as horas para o fim da eternidade e até cantarolava uns sons roucos, falseados, distraindo a insanidade que tanto a assediava. A coisa viveu dia após dia carregando o peso da escuridão à sua volta. Mas uma coisa ela amava, uma coisa ela adorava religiosamente:

Devorar.


Ah... Com brilho satânico, serpenteando dor e luxúria, fazia de suas entrelinhas iscas à carnificina. E devorava com a violência do pré orgasmo. Ririam de sua figura patética, miserável que fosse. E encararia a Eternidade castigando-a por todos os lados daquele quarto! Desde que pudesse consumir até as últimas entranhas de seu alimento vivo.


Assim, voraz, a coisa vai te cercando. Voraz, ela te seduz com tal aspecto fantástico lúgubre. Voraz, ela te chama para perto e pede: decifra-me? Voraz, a coisa faminta vai destroçando a tua alma.


Voraz, a coisa te devora.




terça-feira, 12 de julho de 2011

texto vagabundo

Estou há dias tentando escrever algo decente (não no sentido moral na palavra, não, nunca, jamais). Mas é que não paro para planejar meus textos faz uma boa temporada, nada me vem "leve e alado" - Platão que me perdoe!!

Tudo está tão cuspido, e minha boca está seca. Estou tentando, tentando, mas não restou umidade alguma aqui. Babe, nem sei se devo pedir perdão! Porque afinal, esse espaço é meu, feito para salvar meu eu. Se tu lê, é um tesão imenso sim... Mas mesmo que o mundo fosse morte (e bem que é), eu escreveria, escreveria, escreveria... Mesmo que meu peito estivesse estéril da fé de existir um Deus ouvindo a prece da minha poesia doída. Ah... Eu escreveria, escreveria, escreveria.

Tão mal, tão sem nexo - tal qual sem sexo. Assim, tentando destilar essa inquietação, verter em lágrima-verbo. Não dá certo... Apenas correm dedos pelas teclas, letras que são minhas e escapam. Não tenho história para envolver-vos: eu mesmo ando tão largado às traças, reciclando e juntando um lixo... De sonhos. Será que caí para sempre?

O pior de tudo é que tudo é real.

Escrevo sobre mim, interesse ou não. E não interessa, estou fadigado da minha pessoa boba, despedaçada. O paradigma desse quebra cabeça que mantém minha mente alta é: não consigo abdicar de minha existência. Já não posso me matar, morrer não faz sentido, viver pouco ainda. E escrever? Escrever, escrever, escrever, assim sem um 'aim' a atingir. Bichos, bichas, numa noite de férias, numa noite (mais uma) de dor de cabeça, de falta de serotonina, ouvindo Placebo, tentando preencher meu ego de algo que preste ou macule, apenas escrevo.

Para expulgar, exorcisar, resgatar, entender... Não. Para nada.

Desculpa a falta de revisão, de literatura, de magia ou poesia. É que estou um caco já faz um mês, tentei reerguer castelos n'uns e outros posts anteriores, tentei dizer: ei, sou sonhador. Desisto. A verdade é que ando desistindo e resistindo... É irresistível, não dá.

Deus? Chame a ambulância?

Deus, não me deixes, não me guie cegamente.

Eu te acharei! E terei uma boa história para contar, então. Agora, deixe-me lutar, com lágrimas e sorrisos, morrendo na cama... Deixe-me sangrando na cama like pierrot, the clown.

sábado, 9 de julho de 2011

Cinco Minutos


Nessa tinha cinco minutos e um discurso homérico a fazer. (Que para ela, nos últimos fôlegos, primeiro enganava ser platónico, por fim revelava ser mais um jogo de mentir para o vento. Tudo para nada). Uns milhares de passos dados, as horas corridas, um segundo e sem aplausos a cortina se fecharia - dádiva grega à dama troiana.

Nessa tinha cinco minutos e a Morte ao seu lado:

- Diga-me o teu sentido e eu te deixarei no mundo. Ou morra comigo, venha...

"Ah! Em que vida algo valeu a pena? Vamos, vamos, Morte. Dê uma trégua."

A trégua é valsa que leva para longe, para onde não se vê, não se sente; nem se lembra.

"Vamos, vamos, Nessa. O que te faz?... Pense... (Se pelo menos Ela parasse de me encarar com olhos de lispector!) Ah... Lembro-me de um dia abraçar aquele panda de pelúcia que eu tinha, abraçá-lo na varanda da casa dos meus avós. A tarde estava gelada e tediosa, havia cores desbotadas no céu. Lembro-me disso e apenas isso. É assim? No fim é isso?

Um calor só meu: amo um ser artificial.

A vida toda foi sempre assim, preferindo quem - inanimado - jamais pudesse negar os braços. E desse modo privava-me de ter... Ter o que? Lembro-me de amigos integralmente lindos, uns avós de compreensão singela e espírito elevado. A casa era repleta do que Deus fez, achou bom e bonito. Perdi-me na flor da idade ao permanecer virgem à boemia, mas logo desprendi o olhar recatado e entreguei-me a eu furia de ser jovem. Comi e bebi do néctar divino, escondida. Fui bacante e na ressaca pedi perdão. Sonhei zilhões no início, contentei em limitar os tais nos dedos, acabei por incluir os dos pés. E nem acabei! Não me acabei... O que então não tive por abraçar pelúcias? Reneguei algo sagrado? Era ali que estava o meu sentido de viver? Ah! Mal ensaiei o espectáculo e o tempo excita-se em levar-me.

A varanda não me pertencia; a tarde, se tentou me amar, desistiu e desceu a encosta.

Reconheço a densidade da verdade:
amigos morrem todas as tardes, descendo a encosta rumo ao que lhes interessa: eles mesmos. E as coisas de Deus? Ah... Deus... Fez o homem e caiu no erro de achar aquilo bom! De que me adiantou a timidez e, depois, matá-la? Há quem viva d'um modo e quem viva do outro. Tanto faz. E ainda sim se faz... Morte, perdoa a minha ignorância, mas não possuo a ciência do meu sentido... Se vivi, se soube viver, se perdi ou venci o mundo... Não permeia ideia alguma aqui em minha mente. Apenas sei: uma tarde eu abracei meu panda de pelúcia e senti que era frio, que era morno, que era quente. Sentei na escada abraçada a nada e nada vi. É o que sinto..."

- Então fica, que quando fores feliz na descoberta da Verdade, tu é quem pedirás minha presença. E em cinco minutos morrerás comigo.

sábado, 2 de julho de 2011

Asleep

O espírito se agita, retorce. Já não sabe se repousa a fadiga na cama ou espera o Sol pairar a manhã, ouvindo canções do mar e da lua enamorados... O que fatalmente se faz certeza é (apenas) a perda vagarosa da vida. Entre um suspiro e um bocejo, despenca as areias do tempo... Ah, existência, ah, amor, ah, noite densa...

Passa uma noiva do vento, apressada, ao leste.

E o silêncio retoma o trono, olhos que recaem nos pés, nas mãos, no horizonte atoa. Tão atoa...

Causa perdida; mais um dia de solidão liquido-gasosa; a paixão que se deita e lamenta; sonhos de poeta. Tudo dorme.

Mas o espírito ainda se questiona, entre a maré que dança cega na praia, pra mais perto, pra mais longe... Insensata... O vívido espectro se questiona. De que utilidade é tudo? Sendo pó, ao pó, vento que leva e desfaz, entrefaz aos braços dados que um dia se separarão e às mãos que hoje correm aflitas, amanhã acolhidas. Ou não. Que importa? Ah, não importa, sopra até os confins, perde-se. Deseja e queda-se na realização. Oh, jamais! A vida é um eterno desejo. Ou não.

Repousa essa angústia, deleita-te de lágrimas e as guarda na entrelinha da obra. Ou flua, flua e flutua nestas minhas reticências...