quarta-feira, 20 de julho de 2011

Carta a meu doce suicida

My Sweet 666

Os tempos se passaram e meu ser ainda ensaia em se aquietar diante de ti. Como vão teus vôos no plano sublime? Estás bem aconchegado? Sonhas com campos floridos e suaves em teu dormitar tranqüilo? E quando desperta teu espírito eterno, encontra a paz nos aromas que cercam tua aura plena? Quero muito saber... Anseio em ter visões de ti, toques na madrugada, saber se estás bem... É que as rosas que deixo no caminho são para você. Todas elas.

Meu lindo, essa noite sonhei contigo – eu sei. O destino, misterioso e soberano, não me permitiu recordar as linhas que sobrevoaram meu sono, mas sei, eu senti! Noite passada beijaste-me os lábios. Despertei como de cem anos e, ao retornar vagarosamente à realidade, vi: cem não, quase dois, apenas. Desde que tu fostes bruscamente, levado pelo fado maior, o fado da vida. Desde que tu fostes levado por aquela corda maldita, enlaçando nossos fôlegos e marcando para sempre nossas vidas. Mas quero que saibas que eu te perdoei. Perdoei teres achado que tua vida em mim era vã, perdoei a impressão que tinhas de que se a morte te enviasse passaporte, eu aqui nem ao menos uma lágrima derramaria.

Eu sei, foram as nebulosas do mal. Tu não vias, tamanha era a dor de existir assim caído. Eras um anjo, meu anjo! E os vôos da Terra te cerravam as asas.

Como tentei te consertar! Cada gota de sangue que pendia em minha pele, eu suscitava carinho na tua. Fiz tanto e no fim (fatídico fim) não fiz nada. Tu ergueste aos céus a ultima esperança e nem choveu... Eu não estava lá, mas tu estavas bem aqui em meu peito. Ainda está. Tu ergueste a cabeça e enfrentaste o medo da morte.

A todo instante queria eu juntar teus pedaços e revidavas: “não estou quebrado”.

Minha fortaleza! Enquanto eu chorava na cama, tu vinhas disfarçado de intransponível e afagava meu pranto tolo. Às vezes chorava comigo, ás vezes ria-se de mim e eu me amuava num canto, indignado com tua frieza em frente a minha ferida... Mal concebia que era tudo fantasia, cena de teatro. Tu rias com um torpor de angústia escondido na pupila comprimida. Fez-me pequeno para te assegurar que serias tu o grande, o forte, o refúgio. Minha fortaleza...

E desabou. Mas eu te perdôo.

Ah, minha luz ferida... Hoje vais bem e livre, não? Diga-me que sim! Todo o meu despertar, o brilho de meu sorriso tentando imitar o teu, tudo eu faço por ti. Não quero fracassar mais uma vez... Deixei ires ao encontro soturno do fim, deixei caíres do maior precipício. Eu que dizia ser amor!

Diga que vai bem... Dedico-me inteiramente ao teu sorrir.

Se faço poesia, se canto nossas canções góticas, se danço na escuridão lacrimosa, tudo! Tudo por você. Até prece eu dedico aos céus.

Venha cá, dizes: desse outro lado é bom? Tens ainda o mesmo olhar misterioso, a face d’um anjo calado? Te reconhecerei quando chegar ao teu lado? Promete que me esperarás daí e me levarás até os confins mais adorados do Paraíso? Porque éramos tão gêmeos em terra, é certo que tudo que no céu tu adoras, adorarei também. Como é Deus? Ele É? E cabemos todos no Seu colo? Porque não te largarei um segundo da eternidade: será tão pouco para te amar do modo que mereces.

Sabe, é madrugada. Lembra das nossas? As que nos pertenciam? Era doce e lascivo. Adorávamos nos amar, mas depois tu viravas do outro lado da cama e se calava sacramente. Eu sempre soube que não poderia transgredir teu silêncio, então deitava minha fronte em teu peito descoberto e abraçava-te. Sorrias a mim, e eu poderia morrer. Hoje eu continuo respeitando teu silencio, perdoando teu espírito tão errante... Mas e o sorriso? Sinto falta... Não quero chorar, não quero te preocupar. Estou bem por aqui e ficaria mil vezes mais se soubesse que tu estás bem aí.

É tanto silêncio. Eu perdoei a tua ausência, mas... Uns dias, umas madrugadas, umas baladas (afinal tudo, tudo, tudo ainda me lembra você!)... E você não está aqui. Apenas aquela corda e minha insegurança. Eu te amei! Por que fostes embora, sem despedidas, sem tréguas, sem ficar mais um pouco? Anos passam e... Perdão. Eu estou bem, meu anjo.

Estou vivendo! Dia após dia, procurando aquele bom motivo para a existência. Sorrindo, chorando – é normal, é a vida. Estarei bem até o fim, meu amor. Eu, apenas eu e o teu silêncio.

Luis, antes de me despedir, queria perguntar uma coisa: roubar a própria existência foi a solução? Não, não estou desaprovando teu ato. Já disse e repito: te perdoei! Mas é que se a resposta for “sim”, eu queria tentar... Porque às vezes dói demais... Estou bem... Mas com você estaria infinito e melhor.

Meu amor, meu eterno amor, um beijo em tuas asas... Que os lábios eu guardarei para o nosso momento solene.

Me espera?

Me espera...

Fil. (o garoto do heartagram tatuado no pulso)

PS: Eu nunca deveria ter me livrado daquela algema na noite de agosto – um mês antes da tua despedida – quando brincamos de sermos presos um ao outro, na Ocean Club.

PPS:

Light Up!!

2 comentários:

  1. Tu sabes como eu amo teus textos e o quanto eu fico abismada com a quantidade de sentimentos que só tu consegues inserir neles... Eu me orgulho tanto. Não de ti, mas de mim, por ter achado nesse mundo tão grande, cheio de dores e tristezas uma pessoa que consegue transformar tudo isso em poesia: Você! Este é o texto teu mais bonito que já li... Te amo, aedo!

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  2. Bem lembrado da algema, Fil... Nem mesmo eu lembrava de vocês algemados hehe....

    Mais difícil que a ausência é esse mistério todo: como ele está?
    Quase dois anos se passaram e ainda sinto um gosto amargo de falha, de não ter sido capaz de perceber ou fazer nada.

    Não há dúvidas que eu o poerdôo também. Só gostaria de saber se ELE me perdoa por não ter estado lá, no momento em que ele mais precisou...
    Queria saber se ele me perdoa... principalmente depois de tantas vezes me chamar de amiga, de desabafar seus segredos e depositar em mim sua confiança.

    Tanto tempo... Mas um amigo sempre deixa saudades; e essa culpa - real ou não -, estará sempre aqui dentro.

    PS: Como sempre, belas palavras, Fil.

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