domingo, 21 de agosto de 2011

De olhos abertos


"Se a chuva realmente fosse o orvalho de Deus ou qualquer outro signo de bendição, o tremor dos soluços boldinos não me possuiriam assim, pressionando minha garganta desesperada e meu olhar tosco em volta desse ritual dionisíaco que é a vida. Sou mênade convertida. Protesto essa existência subjugada. Prostituta exausta da catarse. Quero é viver cegamente."

Como ela pode sustentar tanta podridão num coração que vale o infinito do mundo? Saturnine deserda a esquina e segue em frente, tentando não ver a bestialidade da vida, tentando embriagar-se o tempo todo de desamor, como se fosse coisa possível esquecer que tudo é o fundo do poço. Ainda tenta lutar contra a insensatez da cama suja de sangue feminino, líquido branco do prazer e toda aquela imensa de inércia. Nada vale um sorriso, e sorri com o conhaque usurpando sensações.


Depois lança a taça na parede. Mil estilhaços são deixados para trás.


Quando o batom vermelho e o torpor do estupro consentido serão o suficiente? Nunca? Ah, Saturnine, descansa da dança dos anéis de melancolia. E chore, chore como um bebê no colo do vácuo do universo.

"Não me ames, não me leias: é que resisto à luz, sei. Quereria outrora ser o inanimado planeta Terra, néscio face a sua tragédia. Mas sou Saturno, de olhos abertos cintilando silêncio e lágrimas o tempo todo."


Anéis de luz negra sobrevoam a aura caída de Saturnine;
abismo e solidão.


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