sexta-feira, 3 de junho de 2011

So sorry

"Peça àquela estrela que nunca sequem as lágrimas tuas, peça que a cadência seja por todo sempre."

A luz que penetra o quarto de hospital já não é a mesma. Alice sabe, anjos deslizam em volta de seu leito. O corpo já não se difere da alma, todo leve, todo pesado, indiferente à enfermidade: hoje é o dia de alçar voo. Um instante de paz e ela olha pela janela. O que poderia estar pensando a menina dos olhos que umedecem e flutuam líquidos, morrendo nas arestas do cubículo anil obnubilado do céu?


Um dia, nas paragens da infância... Outro
in bloom. Tudo foi em um dia, tudo numa manhã onde as nuvens viajavam ao vento, cortinas do paraíso.
Então viveu? Serena e reluzente, viveu. Mas o tempo diz que acabou-se o pó da vida, hora de dizer adeus, hora de render-se e crer que, no fundo, é bom. O abraço do sol é bom, ainda hoje. Lá cristaliza o verdadeiro lar.

Ah... Haverá alguém a esperando do outro lado, a velejar?...


Difícil olhar o céu, parece tão vago... Solitário... Mas Alice pode sorrir, descansada, pois ainda num instante - qualquer um - o anjo que a observa ao lado esquerdo da cama tocará seu coração e as asas serão abrigo e berço. Será sim.


Ah... Ela está caindo, ajoelhada à fatal verdade, tentando sobreviver à morte, caindo, em glória, sentindo o Sol sob suas memórias.


O doutor entra, diz, conforta com os olhos. E assim, do mesmo modo, aflige. Não há mais ninguém, nem no mundo. O ar se escurece, ensurdece. Hoje não correm crianças pelo parque, uma rosa é apenas uma rosa e Alice um dos seres que perecem na terra. A cortina torna-se negra, o dia escurece... Ensurdece a paz. Apaga-se a última vela e um anjo coberto em ébano vem. Não tem asas nem voo algum, apenas olha e ceifa.


"Estrelas cadentes são apenas feixes de luz em fogo e o cosmos, um sem-lar. O céu? Eterno vazio."
Menina, eu sinto tanto...



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