domingo, 26 de junho de 2011

Solilóquios de Desirée

"Não posso mais encontrar a sua face, feri a única parte de mim que era boa."

"É o meu amor que superabundou? Ou foi o seu espírito solto nas esquinas do mundo, trancado sob a cor verde? Jack... Retorna ao nosso pó, não suporto o peso da limpidez. Não suporto ter que te amar de longe. De longe, eu admiro o nosso amor. E dói vê-lo assim, como o horizonte inatingível."

"Pode haver outro modo de viver minha vergonha? Um modo mais monocromático? Essas cores tanto acusam, prefiro umas nuances no tom da minha alma. Cometi um erro: deixei-me ser feliz em sua íris. Mas ela não olhava para outro lugar senão ao universo lá em cima. Desculpa, sou pouco demais para ser universo. Meu pó astral é artificial, meu brilho é baixo, comprado com desonra! Quando foi que deixei de ser tua alma gêmea para ser cativa das tuas asas de bronze, Jack-não-meu? Quando foi a última vez que vendi o meu corpo para você, qual a primeira que entreguei-o todo puro? E você levou longe daqui, levou para teus mares e marés, longe daqui."

"Para de chorar, Desejo. Para de querer ser desejo! A noite não é tua mãe, não mais. Apenas olha pra frente, desvia da paixão, mantém o peito aberto - quem sabe uma lâmina da brisa rebente a coronária?"

"Para de querer a morte! Se os seus braços são ainda mais frios que a falta dos braços dele..."

"A vida podia ser um tanto menos tirana... Eu podia ser um tanto mais leve, o Sol podia ser um tanto mais quente, a noite mais linda, Jack meu. Tudo que foi ilusão do passado podia continuar me iludindo. Só para eu aguentar mais um dia..."

"... Só mais um dia, se você voltasse a sorrir para mim."

Quedou-se em frente a penteadeira, largou uma lágrima cor de albatroz, só, no centro do Antártico.


"Eu faria tudo, se você voltasse a sorrir para mim."

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