terça-feira, 24 de maio de 2011

Solilóquios de Desirée

"O amor sempre foi um adereço para as putas. Desde muito, as paixões avassaladoras de umas e outras damas da noite foram motivo de literatura, arte plástica e - num todo - fetiche social. Quem não se encantaria pela trágica história de uma linda condenada ao exílio do romance verdadeiro? Tomada pelos prazeres de vís homens enquanto presa a solidão? Sem um amado?..."

"Quem não se encantaria: eu."

"Sabe o que é? Hoje me lavei com mais esmero. Não mais me engana quem diz que o amor é uma virtude, algum galardão a ser mostrado com orgulho. O primeiro que amou não pertencia a uma dinastia soberana, nem cingia-se de servos... Isso não eleva, não purifica, o amor assim não nasceu no plano celestial (Deus nos amou como pai)! Ao vento que tenta acariciar minha face clonando a epiderme do amado, eu o faço recordar: és gelado. És vento, eventual."

"O que foi afinal que transcendeu? Eu estou viva; você, intacto; o mundo nem rompeu a rotação e Deus sonha. Tudo como antes - cada átimo."

"Nada curaria o rompimento da virgindade... Tão pouco o véu descoberto poderia ser resgatado: a face foi vislumbrada. O que se viu? Lúcida, febril, ávida, taciturna; putrefata semente. Antes e depois do amor. Antes e depois."

"De que serve? Rendição não existe para putas. Encanta-te?"

"Escarneço da imagem ridícula no espelho. Antes e depois do véu. Mudou o curso do Universo? Astros desfizeram seus segredos? Conta o teu mais lindo romance e vê se algo brilha. O teu mais lindo, mais lindo, de olhos verdes."

"Mas algo morreu. Sim, sim. Minha impureza. Caí na contradição: amo, e por ti - o mais lindo - seria a mais linda. (Mas não sou)"

Deu uma ultima olhadela no espelho, o batom vermelho lhe irritava, e foi para mais noite ardilosa. Na garupa da moto, percorreria no limite, agarrada à frieza de Jack, pela estrada negra e eterna.Viveria, só mais um instante.


"Só mais esse instante."

Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te Devoro






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