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“O mar não é cruel”, ecoava no pensamento de Annabelle. “O ser humano que é”. E a vida, sua cúmplice, rainha da Morte: sua fiel escrava.
Que tipo de conto é esse que conto a você?
Que tipo de conto de fadas é esse que minto a você?
Aquele que mascara com poesia a linha fria e crua onde segue a História Real.
Risos tímidos, risos extravagantes.
Um pingente de prata, nomes mágicos.
A manhã cobrindo aqueles rostos radiantes.
Um fabuloso buquê de rosas brancas e vermelhas.
Poesia.
Uma aliança.
Lágrimas incontidas.
A Perfeição. E o Fim.
A bala e o fim. O desespero estúpido de um inválido pisado e o fim. Pisado.
O peito da poetisa sangrava em cachoeira sem retorno ou esperança. Num chão de calçada, numa manhã de domingo, assaltada e ceifada sem o menor sentido, sorrindo para o mais desesperado dos rostos. Escorria cachoeira de poesia e dor – morria uma estrela.
Clara foi enterrada com seu pingente ao pescoço e em sua homenagem foi lida uma de suas jamais publicadas elegia à Morte. Também consigo, cravada eternamente em sua pele gélida fora enterrado todas as carícias e luz de Annabelle, dando inicio a Era da Escuridão. Fútil e recôndita história de “Belle Meu Coração Quer Parar”.
Agora, do presente restou um pequeno tesouro: nas madrugadas sem sono a magia renascia na tela e sob o podre do chiaroscuro, Belle pintava o retrato mais lindo, a dádiva mais linda ao seu anjo caído e roubado. A única dor desse trabalho apaixonado se concebia no olhar de Clara, opaco e incompleto. Apenas em dias de tempestade é que o brilho das águas banhavam a inspiração da pintora a criar os olhos perfeito para sua amada.
Entretanto há tanto tempo não chovia impetuosamente! E os dias se passavam cada vez mais árduos e insignificantes. Até a última tempestade:
Nossa, Fil. Que forte e triste. Mas amo tua escrita. Não tem como não amar. É linda, envolvente e sempre doce. Até mesmo quando narra a morte de uma moça tão linda.
ResponderExcluirBeijos, lindo <3