segunda-feira, 14 de março de 2011

Paixão, Pintura e Poesia II

[...]

Passado que massacrava mais uma inválida no mundo, assim como os milhões de universos fechados ambulantes pelas ruas, caminham os inválidos massacrados em seu silêncio e em suas histórias destinadas ao pó do esquecimento. Clara não podia! Aquela alma tão querida e amena que fora brutalmente violada e enviada ao sétimo palmo da terra jamais poderia ter sido em vão, Annabelle não aceitaria. Era seu imenso amor perfeito...

Nossa heroína desfeita do dia das bruxas nem sempre fora trancada ao mundo qual uma bíblia fechada numa gaveta esquecida. Pelo contrário, Annabelle vivia de risos e êxtases da juventude, vestida de alegria, voando solta sob sua própria atmosfera; sua presença cheirava a melissa. Introspecção era uma parte secreta naquela alma avivada. Secreta nos olhos daquela que fazia brotar sorriso bobo e infantil em Belle: Clara.

Poetisa por natureza, delicada e silenciosa, sempre tranquila. Seu aroma era de café pela manhazinha e seu abraço era incrivelmente maternal desde pequenina. Assim pequenina que enlaçou a melhor amizade à Annabelle e a ela dedicava cada versinho encantado, poema maldito e contos fantásticos de embriaguez apaixonada. Enquanto Clara se derramava em delírios da meia noite, Belle irradiava pinceladas de fogo em pleno meio dia. Pincéis que vertiam aquela criatura expansiva e brilhante em arte intensa e abstrata. A pintora e a poetisa. Sem famas ou luxo, apenas a certeza prisioneira-libertadora de que para a Arte tinham nascido e da arte juntas morreriam. Morreriam... Principalmente depois do primeiro (e único) beijo, o salvador. Nada que não tenha acontecido em filmes, nada simples quanto neles! A loucura da adolescência é se jogar ao mar em maré de escuridão, figurativa e literalmente falando, como as duas resolveram fazer. O horizonte se confundia entre o negro do mar e o negro do céu – ambos refletindo seus mistérios um no outro, sendo um só como a pequena e insensata Belle, convidando a sonhadora Clara a banhar-se de lua e sal. Apenas as duas.

E tendo também apenas uma a outra, o coração de Annabelle quase se afogou quando viu sua paixão inocente perdendo os sentidos, entregue ao desfalecimento no centro da praia maldita-adorada. Mas o mar não é cruel para os que compartilham sua alma oceânica e bastou um pequeno fôlego de doçura nos lábios salgados de Clara para ressuscitá-la e.

Renascer.

Nos lábios de sua paixão proibida, roubando-lhe mil beijos na areia da praia e ali mesmo sendo um só corpo e alma, no pecado do amor, dando inveja ao mar que jamais tocará o céu enluarado.


[continua]

Decifra me? Devoro-te.

Um comentário:

  1. Hum.. acho que vou ter que voltar com mais tempo para ler a parte I rrsrs,
    mas de antemão, desejo uma ótima semana pra vc!

    bjOs

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