segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Epitáfio de Sentimentos

O silêncio que ele guarda nos olhos esconde muito mais do que as lágrimas que você deixou escapar, negligente. Se te ama, és apenas uma cor do arco íris. O restante, dançando até o pote de ouro desceu ao inferno e voltou sépia... Aquele vestígio de tesouros do passado.

E você negligente, ainda revivendo as árduas paixões!

Mas ele correu séculos adiante. Na terra afunda a mágoa profunda, o beijo salvador e, na tréplica, cálice de veneno – esse caleidoscópio do vosso relacionamento.

Se te ama (e eu duvido muito), é como o sepulcro ama a lembrança noturna. Frases que escorrem estéreis e morrem no cimento da lápide. Bem ali estás, bem debaixo, aquecida com os vermes. Se te ama (e eu insisto em duvidar), é porque o espectro que você deixou fugir no último ósculo permanece iluminando a sua frieza. Amor mal digerido, isso foi vocês.

Acorde desse doce martírio, enxugue as lágrimas vãs: ele não te ama!

O riso que ele entrega ao vento não pertence às lembranças de tuas carícias, aquele desespero cativante. Não te ama; nem resto de alegria sobrou naquele pensador sórdido. Mas é belo.

Sim, belo e caríssimo, dedicando ao além umas preces de morte – tolo, mais que a ti própria. Escondendo a vida em frases gravadas no jardim das almas mortas. Negligenciando a vida em nome do desfalecimento.

Acorde e abrace o mundo. Lá fora o Sol ainda quer namorar você!

De que vale amar a poesia, se ela decai por si própria? E da felicidade ascende melancolia, enterrando declarações de amor em frases de um epitáfio? De que vale entregar-se ao belo, se o belo deleita-se em apodrecer nos portões de um mausoléu?

Ele te ama? Não. Ama a fatalidade de ser silêncio e solidão.

Não te amo. Amo possuir a imortalidade de ser epitáfio em teu coração.


Magia, Paixão e Poesia - Decifra me enquanto te devoro

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