domingo, 7 de agosto de 2011

Nichya

Metchty
Nos relevos do frio em Moscou, duas garotas caladas revelam olhares cúmplices uma à outra. No alto do terraço onde elas escondem seu amor, cresce em meio ao limbo, íris azuis, trêmulas e frágeis (como o pulsar contido do alvor eslavo em arrebatamento amoroso). Poderia o mundo ser mais belo que aquela cadência maldita? Uma cidade qualquer, enegrecida pelo silêncio da memória, pedante... Lírica onde os pássaros ousam cantar, gótica nas horas últimas da tarde. Um submundo superlotado de solidão. E no alto do prédio, onde flores relutam ao congelar do esquecimento, deitam duas garotas enamoradas pelo fim. Haveria chance de serem mãos dadas em plena luz burguesa? Beijariam-se aos domingos no banco do parque sem a perplexidade arrogante e o dedo acusador do homem? Casariam, teriam filhos e amantes? Seriam como a brisa do verão ou como o gelo do inverno?

Slyozy
Eram como lágrimas, hoje. Purificando sonhos renegados, renunciando a vida para ter-se. Escondidas no amargor da meia noite. Mas elas se prometiam: um dia tudo mudaria e sonhos não seriam mais largados no caminho! Esse seria um só. Tudo delas.

My ne v posledniy raz
Os outros não deixarão que elas escapem facilmente; as doces memórias, os sorrisos (rosto e corpo) serão maculados ao toque do sino da catedral. deus-Homem acusará, a lei acusará, a sociedade acusará. Mas eles não devorarão as suas esperanças, adiante haverá luz branda e lar. Por hoje o dia será como a noite, a noite tal qual manhã solitária... Os outros as separarão, porém os olhares outrora tão únicos e depois ultrajados pelo rompimento brusco se encontrarão. De novo, essa não será a última vez.

"A lua escuta os espasmos do coração. Elena fixa sua alma na mirada de Julia e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."

Refleks
Toda essa perseguição ao amor detém-se à reflexos incoerentes de um sexo incorreto. Quando as regras são quebradas em declarações de paixão e poesia ou com o frêmito abrupto de mentiras; quando há o medo de ser um olhar solitário, de encarar a verdade da humanidade: (que não se faz piedosa a ninguém - que cada um é só por si só); quando o espelho revela o brilho de meninas quebradas.

Glazá
O tempo já parou de contar as horas e o vento desistiu de violar a epiderme alheia. Ecos do vazio, i-mundo cercado de nevoeiros soturnos e indícios de chuva. Abandonar-se-iam em beijos clandestinos, entretanto hoje elas preferem ser seres errados, num abraço. E de soslaio uma seduz a inocência da outra com o pecado de se amarem, olhos que suplicam: 'nunca me deixes, essa não será nossa última vez'.

"A lua escuta os espasmos do coração. Julia fixa sua alma na mirada de Elena e, numa prece calada, entrega-se: é apenas você que sabe o quão imenso é meu desejo por ti. Eu, que sou ninguém..."


(Nota de rodapé: esse texto foi inspirado na música de mesmo nome, da dupla russa t.A.T.u.. Só dei uma traduzida e adaptada vagal, hehe)

Lyubye otdam mechty
Za to, chtob tuda, gde ty
Ty znaesh' menya
Ya vse promenyayu
Lyubye otdam mechty

Profil' i anfas
Zhivymi voz'mut ne nas
My otvernemsya
My ved' vernemsya
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

Prosto eto pefleks
Nash neprabil'niy tekst
Ili slovami chto-to slomali
Ili sovrali bez

Strah odinokih glaz
Nikto ne poydet za nas
Kazhdiy odin
Ne uhodi
My ne v posledniy raz

Tol'ko ty znaesh' ya
Ochen' hochu tebya
Ya ved' teper'
Nich'ya

2 comentários:

  1. me senti em casa lendo seu texto. aconchegante, profundo, de uma beleza incrível.
    abraço,

    ResponderExcluir
  2. Passando para agradecer sua visita no meu blog e aproveitando para conhecer o seu. zJá de cara adorei do texto. Um abraço.

    ResponderExcluir