quarta-feira, 11 de abril de 2012

Franca verossimilhança a respeito do que me motiva a transmitir um mal estar continuo ou Do porque sofro ou Meu amor e suas correspondências

Procurarei aqui justificar minha constante mistificação e culto aos males.

Todo dia, quase, construo cenário de opressão e maquio o elenco de face bizantina. É um teatro. Essa minha vida é um teatro, eu reconheço. E como toda arte, respira, produz e lancina vitalidade própria.

Vê como é bela minha encenação? Legítima.

Contudo tem sempre quem me aponte correlações à realidade com a obra.! A esses dirijo minha prosódia: as entonações podem sim ser reflexos de um texto-eu. Okay, eu tecerei relato do ante script para vocês. Disse de proêmio e ressalvo outra nova vez: minha mistificação decadentista, minha italicamente mesmo.

Justifico, caro erudito. Em suas pesquisas bem argumentaste uma depressão cênica, problemas que eu invento para ser triste. Justifico, caríssimo erudito. Logo. Assim que eu reconquistar o despudor.

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Já.

Isso: Quando to puro e impenetrável, só eu, alguém vem e me dá cara de angustia. Eu to bem, existindo despretensiosamente, daí eles vem e falam:
- Você está bem?

Surpreso em degradê respondo que sim.

- Sério, pode falar... O que você tem?;

ou logo sentenciam que to triste.

O que faço? Sou pleno e bem, até que me descobrem dor e eu nu. Nem sei mais quê sinto, quê sou, quê guia-me. E visto o figurino dado, crio fatalidades e as conto para que meu próximo possa acolher.


É disso. Minha tragédia eu faço para a catarse do próximo. Porque se me olhares na coxia, nem compaixão nem temor te possuirão. Apenas reflexos. E arrisco: sou como água corrente, o que te notas no meu olhar é o mundo teu com ondas.

Pegou? Para não me reduzir a nada e te deixar esperando de braços abertos finjo sofrer. E me abraças.


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Tudo é Amor.

Um comentário:

  1. juro que quando li tive um sobressalto. a literatura tem esse poder, não é mesmo? a gente se identifica com quem finge também, e se afasta dos que 'são verdadeiros'.
    Afinal, dramatizar é a mais bela das artes.

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