Índice remissivo antecipado
Um Trabalho talhado de tensões e insônias.
Jamais cri eu poder ser tão devoto, afinal escalas de sentimentos já evanescem com a sutileza de um tímido espectro de luz, o que dirá então de todo o prisma de cores da realidade invadindo a epiderme? De modo que qualquer fantasia apaixonada se apagaria.
E apagou.
Jamais cri eu pagar tributo mesmo após ver o quão vã é a Terra e tudo o que nela orbita.
Um léxico básico:
Paixão: certeza efêmera feita de efêmeros suspiros e efêmeros hormônios.
Eu que fui consagrado às incertezas permito-me assassinar o que é belo (e superficial) e elejo o amor. Ele é feio, tão palpável como palpáveis são as chagas abertas de Cristo.
E adoro.
Naquela manhã um homem três palmos a baixo da miséria fora guiado à forca. Seus pés arrastavam-se sobre a aspereza do chão público, o de todos nós. Sua caminhada penitente era iluminada pelo raiar intruso e acusativo do sol, aquele mesmo astro mãe negado durante o tempo de cárcere. As suas mãos enlaçadas eram gêmeas caladas, aleijadas. Deixassem-nas livres e com elas ele voaria para a condenação dos céus.
Confuso, porém pouco surpreso notei que não era uma corda aquilo a envolver o pescoço rendido do homem, era uma serpente. Pálida e embriagada, abraçava aquela vida. Bicho desmembrado abraça com o seu todo e mata.
- Algo a dizer? – perguntou a voz áspera-encapuzada.
Acenando negativamente a cabeça, o homem prostrou os olhos na multidão me procurando. E eu corri longe daquele maldito olhar... O crime pertencia-me. Eu era o culpado! Mas me perdoou, eu sei. Ele perdoou a todos nós e morreu.
Minha paixão humilhada, rastejante e mártir morreu.
A culpa fica, a culpa sou eu.
Em cárcere ameno um poeta folheia antigas cantigas, retalhos de fascinação e engano. Fora longe – pródigo! – o tempo das virtuosas inspirações. Resta hoje o meditar a respeito da mentira e da verdade.
Sobreviver quando estás tão longe se torna uma promessa de vida. Mesmo que jamais tenha prometido algo assim.
Mil poemas iniciados e incompletos eu guardo na gaveta. Te darei meu labirinto verbal!
Talvez assim funcione porque eu esteja em pedaços e em pedaços esteja você também. Nossas rimas, nunca, nunca, nunca se encontram.
Mil versos livres sagrados...
Desarmônicos. Não é a música de um poema de Verlaine. Desnorteia, rabisca minha precisão, amassa meu esmero! Eu pego fogo, você me ascende!
Dei tanto, tanto... Ao máximo dediquei o labor de te amar. Fiz ainda mais: eu fiz demais. E nada do que e edifiquei cabia à tua alma. Ás vezes penso que o que construí foi uma fortaleza e te privei do sol.
Fiz tudo, mas bicho desmembrado que sou, matei-te num abraço.
Trata-se da mentira e da verdade.
O poeta.
Abriu passagem pisoteando as folhas no chão, sufocando a vida. E caminhou até a porta de sua confinada habitação. Lá fora o mundo mantinha seu espetáculo circense orgânico, rodopiando entre as pernas da mãe Terra; sonâmbulo, ébrio feito boêmio idoso. Até as escuridões mais intensas das esquinas da noite ignoravam ser manto de sacrilégios e dançavam a dança de Salomé. Quanta infinita gente doendo insuportavelmente, debaixo de um cobertor ou sem ele, quanta decadente solidão e angústia no palco de hoje... E o que é poesia nisso?... Nada alem de dissimulação. O verso perfeito tem ritmo de mentira e negligência. A verdade cala, aponta e condena. (a si mesma).
Uma peregrinação: a paixão quase vive de tanto que sua morte persegue.
Saudade. De te abraçar feito serpente.
O sono quase mata. Quero e preciso dormir justamente. Mas é que escrever sobre você ilude que estás perto. E sinto um cheiro que deve ser o teu, uns calafrios que devem vir da tua pele tocando a minha, uma inquietação que é o teu olhar sobre mim, uma solidão imensa que deve ser a tua. Tudo é você. Meu coração e eu decidimos.
Ele tentou afastar o cálice, contudo a vontade do Pai prevaleceu. Nem toda adoração deve ser revelada. Pois então eu me calo e digo apenas coisas com dor carmesim – todo fluxo sanguíneo teu eu guardo junto ao meu (e passeia e filtra e dá vida. Sístole, diástole, sístole, diástole...).
Nem toda adoração deve ser revelada. Caso ocorra, triste e pesado fica o adorado em querer recompensar com milagres. Não faça milagres por mim, você não precisa me amar.
Eu mesmo não te amo, é outra coisa.
Teu cabelo... Feito o mar proibido da madrugada. Quão tempestuosas são as ondas que me ferem, me afogam e me fascinam. Este teu negro diadema desce a pele doce e morena, joga-se em movimentos livres inconstantes, dança teu cabelo e eu com ele quero me perder para sempre... Quero beijar tua cabeleira tão profunda, sentir seus fios inundando meu rosto, cegando meu mundo. Provar do sabor, inalar o perfume. Como manto do universo, como o infinito tua cabeleira me suprime, me encanta... Cascatas me conduzirão até tua tez centrada e acariciarei as sobrancelhas que adornam uns olhos tristonhos e cansados... Ah, eu beijarei teu olhar e meus lábios te darão o sono e descanso, meu rei e adorado.
Se te afliges um malogro, rente, ao teu peito, meus ouvidos ficarão e escutarei teu fluxo de vida pulsante... De novo meus lábios prometem tocar tua vida, e com um sopro afugentarei os maus espíritos. Vem, amado! E flui comigo, com meu ser todo entregue.
Nada penitenciarei a ti, pois minha devoção é espontânea. Teu lábio superior é como o horizonte de um lindo pôr do sol e o inferior tem gosto de mel e a frescura das flores. Algo ardente possui meu coração e é o pensamento dos teus dedos, esses leves e santos que correm sobre mim buscando sinfonia. Sinfonia mais pura é a da tua voz que me devaneia e hipnotiza.
Sou a sombra da tua sombra, o guerreiro que jamais deixará dardo algum atingir-te.
E se meu ser todo anda prostrado é porque sou mortal... E se meus olhos se erguem é porque buscam a glória dos teus. Como duas aves debutantes sobrevoando a praia num fim de tarde são teus braços e eu os anseio!
Pouco sou, acanhado eu sonho no dia em que tua vida envolverá a minha. Lá estarei a salvo...
À luz que persegue cada passo que caminhas envio orações, às pessoas que te tocam envio poesia, ao dia que te desperta e à noite que te refugia eu declamo música sacra. Meu culto permanece eterno, pois às estrelas todas eu conto e à elas peço que conte às suas amigas que eu te adoro. O Universo esconde o segredo.
Tu és meu segredo, supernova.
Eu te adoro.
Um Trabalho talhado de tensões e insônias.
Jamais cri eu poder ser tão devoto, afinal escalas de sentimentos já evanescem com a sutileza de um tímido espectro de luz, o que dirá então de todo o prisma de cores da realidade invadindo a epiderme? De modo que qualquer fantasia apaixonada se apagaria.
E apagou.
Jamais cri eu pagar tributo mesmo após ver o quão vã é a Terra e tudo o que nela orbita.
Um léxico básico:
Paixão: certeza efêmera feita de efêmeros suspiros e efêmeros hormônios.
Eu que fui consagrado às incertezas permito-me assassinar o que é belo (e superficial) e elejo o amor. Ele é feio, tão palpável como palpáveis são as chagas abertas de Cristo.
E adoro.
Proêmio
Como apagou.
Como apagou.
Naquela manhã um homem três palmos a baixo da miséria fora guiado à forca. Seus pés arrastavam-se sobre a aspereza do chão público, o de todos nós. Sua caminhada penitente era iluminada pelo raiar intruso e acusativo do sol, aquele mesmo astro mãe negado durante o tempo de cárcere. As suas mãos enlaçadas eram gêmeas caladas, aleijadas. Deixassem-nas livres e com elas ele voaria para a condenação dos céus.
Confuso, porém pouco surpreso notei que não era uma corda aquilo a envolver o pescoço rendido do homem, era uma serpente. Pálida e embriagada, abraçava aquela vida. Bicho desmembrado abraça com o seu todo e mata.
- Algo a dizer? – perguntou a voz áspera-encapuzada.
Acenando negativamente a cabeça, o homem prostrou os olhos na multidão me procurando. E eu corri longe daquele maldito olhar... O crime pertencia-me. Eu era o culpado! Mas me perdoou, eu sei. Ele perdoou a todos nós e morreu.
Minha paixão humilhada, rastejante e mártir morreu.
A culpa fica, a culpa sou eu.
I
Tensão.
Tensão.
Em cárcere ameno um poeta folheia antigas cantigas, retalhos de fascinação e engano. Fora longe – pródigo! – o tempo das virtuosas inspirações. Resta hoje o meditar a respeito da mentira e da verdade.
II
Insônia.
Insônia.
Sobreviver quando estás tão longe se torna uma promessa de vida. Mesmo que jamais tenha prometido algo assim.
III
Tributo e devoção – Incompletos.
Tributo e devoção – Incompletos.
Mil poemas iniciados e incompletos eu guardo na gaveta. Te darei meu labirinto verbal!
Talvez assim funcione porque eu esteja em pedaços e em pedaços esteja você também. Nossas rimas, nunca, nunca, nunca se encontram.
Mil versos livres sagrados...
Desarmônicos. Não é a música de um poema de Verlaine. Desnorteia, rabisca minha precisão, amassa meu esmero! Eu pego fogo, você me ascende!
IV
Paixão.
Paixão.
Dei tanto, tanto... Ao máximo dediquei o labor de te amar. Fiz ainda mais: eu fiz demais. E nada do que e edifiquei cabia à tua alma. Ás vezes penso que o que construí foi uma fortaleza e te privei do sol.
Fiz tudo, mas bicho desmembrado que sou, matei-te num abraço.
V
O belo e o feio (quase putrefato).
O belo e o feio (quase putrefato).
Trata-se da mentira e da verdade.
O poeta.
Abriu passagem pisoteando as folhas no chão, sufocando a vida. E caminhou até a porta de sua confinada habitação. Lá fora o mundo mantinha seu espetáculo circense orgânico, rodopiando entre as pernas da mãe Terra; sonâmbulo, ébrio feito boêmio idoso. Até as escuridões mais intensas das esquinas da noite ignoravam ser manto de sacrilégios e dançavam a dança de Salomé. Quanta infinita gente doendo insuportavelmente, debaixo de um cobertor ou sem ele, quanta decadente solidão e angústia no palco de hoje... E o que é poesia nisso?... Nada alem de dissimulação. O verso perfeito tem ritmo de mentira e negligência. A verdade cala, aponta e condena. (a si mesma).
Uma peregrinação: a paixão quase vive de tanto que sua morte persegue.
O belo e o feio (quase putrefato), parte 2.
Saudade. De te abraçar feito serpente.
VI
Palpável.
Palpável.
O sono quase mata. Quero e preciso dormir justamente. Mas é que escrever sobre você ilude que estás perto. E sinto um cheiro que deve ser o teu, uns calafrios que devem vir da tua pele tocando a minha, uma inquietação que é o teu olhar sobre mim, uma solidão imensa que deve ser a tua. Tudo é você. Meu coração e eu decidimos.
VII
As chagas de Cristo.
As chagas de Cristo.
Ele tentou afastar o cálice, contudo a vontade do Pai prevaleceu. Nem toda adoração deve ser revelada. Pois então eu me calo e digo apenas coisas com dor carmesim – todo fluxo sanguíneo teu eu guardo junto ao meu (e passeia e filtra e dá vida. Sístole, diástole, sístole, diástole...).
Nem toda adoração deve ser revelada. Caso ocorra, triste e pesado fica o adorado em querer recompensar com milagres. Não faça milagres por mim, você não precisa me amar.
Eu mesmo não te amo, é outra coisa.
VIII
... E adoro
... E adoro
Teu cabelo... Feito o mar proibido da madrugada. Quão tempestuosas são as ondas que me ferem, me afogam e me fascinam. Este teu negro diadema desce a pele doce e morena, joga-se em movimentos livres inconstantes, dança teu cabelo e eu com ele quero me perder para sempre... Quero beijar tua cabeleira tão profunda, sentir seus fios inundando meu rosto, cegando meu mundo. Provar do sabor, inalar o perfume. Como manto do universo, como o infinito tua cabeleira me suprime, me encanta... Cascatas me conduzirão até tua tez centrada e acariciarei as sobrancelhas que adornam uns olhos tristonhos e cansados... Ah, eu beijarei teu olhar e meus lábios te darão o sono e descanso, meu rei e adorado.
Se te afliges um malogro, rente, ao teu peito, meus ouvidos ficarão e escutarei teu fluxo de vida pulsante... De novo meus lábios prometem tocar tua vida, e com um sopro afugentarei os maus espíritos. Vem, amado! E flui comigo, com meu ser todo entregue.
Nada penitenciarei a ti, pois minha devoção é espontânea. Teu lábio superior é como o horizonte de um lindo pôr do sol e o inferior tem gosto de mel e a frescura das flores. Algo ardente possui meu coração e é o pensamento dos teus dedos, esses leves e santos que correm sobre mim buscando sinfonia. Sinfonia mais pura é a da tua voz que me devaneia e hipnotiza.
Sou a sombra da tua sombra, o guerreiro que jamais deixará dardo algum atingir-te.
E se meu ser todo anda prostrado é porque sou mortal... E se meus olhos se erguem é porque buscam a glória dos teus. Como duas aves debutantes sobrevoando a praia num fim de tarde são teus braços e eu os anseio!
Pouco sou, acanhado eu sonho no dia em que tua vida envolverá a minha. Lá estarei a salvo...
À luz que persegue cada passo que caminhas envio orações, às pessoas que te tocam envio poesia, ao dia que te desperta e à noite que te refugia eu declamo música sacra. Meu culto permanece eterno, pois às estrelas todas eu conto e à elas peço que conte às suas amigas que eu te adoro. O Universo esconde o segredo.
Tu és meu segredo, supernova.
Eu te adoro.
Prólogo
Saudade
ah. eu adoro esse teu ritmo ultra-romântico. <3
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