quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Diálogo Mal Encantado ou A Tola Princesa VIII - (um "fim").



MAD PRINCESS - Sim. É a vida rendida aos meus pés de cristais. Espere, estou confundindo mais uma vez. O que é de cristal? O horizonte? Ele é o fim que jamais atingirei, seja qual for minha caminhada. Alguém me consola?

MAD MIND - Consolo? Se até eu me canso...



MAD PRINCESS - Estou muda, diante da maior tragédia que poderia haver: a eternidade.

MAD WHISPER - E encantada. Dói? Ah... Permita então que eu te tome em aflição. Permita que eu te cuspa a face.


MAD PRINCESS - Como disse?!


MAD WHISPER - Cuspir-te a face, ferir-te a pele profundamente, coroar-te com amargura e fartura de chagas...


MAD PRINCESS - Cala tuas inúteis investidas, por favor! Sou uma princesa que nada mais deseja. Deixa-me só com o silêncio.


MAD WHISPER - O silêncio és tu diante da verdade: deves ser crucificada, matar a carne. E por três dias...



MAD PRINCESS - ...descansar no inferno.

MAD WHISPER - Vejo que conheces
esse conto.


MAD PRINCESS - Sou uma marionete tragicômica para você, sei bem... Ai de mim.

MAD WHISPER - Ai de mim! Que tenho que me por aos teus pés unicamente para que sintas que és mesmo realeza. Somos feitiço no mesmo mago. Também sou marionete.


MAD MIND - Até eu, meus caros...


MAD PRINCESS - O que farei?


MAD WHISPER - Para se salvar da vida?



MAD PRINCESS - Algo ainda não me convenceu nesse diálogo. Algo foi apagado.

MAD WHISPER - E não era bem essa a tua doce tentação? O que procuras na vida? O segredo não está contido em uma fortaleza em seu centro... O segredo é ela.


MAD PRINCESS - Como livrar-me de mim?



MAD WHISPER - Pobrezinha...


MAD PRINCESS - Elevo meu espírito ao máximo da divindade vigente e faço uma prece.

MAD WHISPER - A prece és tu.


MAD PRINCESS - Eu sou a prece, para sempre.



MAD WHISPER - Uma tola menina desejando estar sozinha. A companhia de seus sete anões quebrados a sufocava e a bruxa, essa já não assustava suas noites de monotonia... Fadas madrinhas guardadas em caixinhas de música empoeiradas dormiam sem três ou quatro desejos da meia noite. Do alto de sua torre nenhum príncipe encantado pedia suas tranças (ele dormia há mais de cem anos, sem juras de amor eterno); do alto da torre ensaiava seu ultimo drama: o salto à morte – único impossível no reino encantado.
Solidão, apenas. Feliz para sempre é pesado demais. Sempre o mesmo: o pano cai e o reino se fecha na ultima página para reabrir-se naquele antigo ”era uma vez”, por séculos e séculos seguidos.
Pequena, diga-me, eles realmente acreditam no final feliz para sempre? Se sempre retoma o caminho encantado de mentiras? A morte é um sonho distante, o conto está fixado na história e eles jamais pararão de te trazer à vida, heroica e tristemente adorada. Ah, pequena... Quem sabe um dia, no fim, os poços de melancolia que tu provestes poderão secar?


[é só o soar cripilante do vento]

4 comentários:

  1. Tu que inventou isso?
    que cabeça ein !

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  2. Uau, Fil! Eu simplesmente AMEEEEI! Esses seus dialogos de "mad's" são um luxo! Não tenho outra palavra para descrevê-los!

    Já disse que me encanto com você e sua escrita? <3

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  3. Passando para agradecer o comentário e visita.
    Quanto ao texto, incrível.
    Abraço

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  4. Rapaz, dessa vez o que me encantou foi a imagem do post '-' sério mesmo.

    Ah já to no caminho pro infinito há tempos rs

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